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letra de medo - tilhon

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refrão
não vivas no medo, sente o sossego
aponta-lhe o dedo
porque o medo é em ti que mora
deita cá para fora
não fiques calado não fiques vivas trancado no medo

tenho medo do medo, deitar-me tarde e ele acordar cedo
ele numa atitude cobarde eu num guião sem enredo
tenho impressão que é manual chegar a este degredo
basta a impressão digital de apenas um dedo

medo de trocar a mulher da vida por mulher da vida ou putedo
sentir que a vida brinca comigo como se fosse um brinquedo
num xadrez onde ela avança e recua eu sou peão não retrocedo
escrevo num papel para deixar de ser segredo

medo de me sentir um grão açúcar rodeado neste mundo azedo
ter de partir pedra mas ver de frente um rochedo
mas não sentir essa inquietude parece-me um utópico sossego
fiel ao escuro da noite ao ombro p-sseio o morcego

o medo ganha olhos e enxerga a minha fraqueza
tira as mãos do bolso e sufoca-me com subtileza
ele com ouvidos nas paredes no teto e chão que calço
ouvidos nos ouvidos separados por um teto falso

um retrocesso à escravidão mesmo que anseias a realeza
eu de inchada e pá na mão ele a montar banquete à mesa
pensar dá-me medo ser feliz é não ter medo da tristeza
ganhar esse duelo eis sim belo e proeza

o seu habitat natural é qualquer ser humano
não tá no perigo, no obstáculo ou na bala que sai dum cano
perseguido pela sombra tenho medo da minha pessoa
vivo na interrogação de quantos paus se faz uma canoa

sinto-o a correr atrás odor a transpiração
de lengerie fio dental em piruetas num varão
num paço sincopado ambíguo de pulsação
como santo antónio aos peixes a pregar-me um sermão

o medo habita-me e faz do meu corpo mansão
mas eu pedalo mais forte para me separar do pelotão
fiel aos meus princípio como um bêbado ao balcão
o medo vende melhor o peixe que peixeiras no bulhão

nunca lhe vi a altura mas quando o sinto sinto-me anão
ele é um eterno pecador que nunca pede perdão
sentado na poltrona pede que lhe beije a mão
sem matrículas na escola mas a puxar do galão

posso ficar sem chão só quero um lugar no céu
um julgamento divino onde o medo não é correu
um cavalheiro o medo p-ssa por ti tira o chapéu
quem não arrisca não petisca mas quem te disse que eu queria o teu pitéu

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