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letra de ainda o país que nasceu meu pai - paulo flores

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já não quero mais nada

não me metam mais nisso

pensei na dipanda
assumi compromisso
construí a buala
fui mutu ya kevela
quase morri sem causa
não fosse a filha rainha
eu já quero só tudo
nada de menos
respeito aos mais velhos
eu quero voltar a ver
o makiezo na praça
uma terra que cria
donos da nossa vitória
no país que nasceu meu pai
desse todo
eu sou só um pedaço
e espero um dia ver
a prova que a mágoa sai
no fundo dos olhos dos homens
justiça e água
para eu lavar meu pai
lenguluka que assobia
é o n’guvulo
maka grande de um kandengue sem desculpa
nada contra o kuduro
sou da rebita
sou da matriz
no país que nasceu meu pai
caté no sambizanga
nós brincamos às favelas
em todas as telas
caté minhas vavós
vão descer as luzes amarelas
e é lá que eu vou vê-las
vi nascer o meu pai

da coisa mais certa
numa proa do tempo com vento
com a voz
da esperança
a voz de um povo
na melodia da noite
na total utopia da beleza
sem tristeza
com a certeza da vitória
que pode ser incerta
mas certeza de chegada
de um povo de história
afinal isto não é poesia
são coisas da vida
da vida do país do meu pai
o país do meu pai
tem cobiça, chiça
nos chinelos dela tem semba
pano não cai
me leva, me baixa… escorrega
na terra do meu pai
terra do som
às vezes até o meu pai
se esquece da sua avó linchada
na fogueira do mundo fármaco
do seu mais aluguer, mais recôncavo
sabes pai, fazes-me falta
tu e todos os kotas do teu tempo
que se privaram por nós, para nós
era pra ser nós todos
os panos serviam como livros em estantes
licença de ter memória constante
alicerce da vida
qual quê

nós todos, era pra ser nós todos

já não quero mais nada…

caté minhas vavós…
minhas vavós…
eu só vim contar a história
de um tempo não tão distante assim
eu só vim mostrar por dentro de mim
o país que nasceu meu pai

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