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letra de aninha (interlúdio) - oliver hirondelle

[gravação: ana beatriz]
tá ligada que essa semana vai ser a semana mais fria do ano, né?
daí assim, do nada… tava um solzinho gostosinho
eu tava com a minha blusinha de abelhinha, ela é fina, não esquenta nada
eu tava só com essa blusinha… e daí do nada fechou o tempo todo
tá tipo, tudo nublado, um vento gelado do cacete
aí eu coloquei meu suéter de lã porquê eu tô com frio

…

ai velho, tipo assim eu tô reclamando, mas, esse tempo assim, com o céu nubladinho e tal, ventando, me lembra muito de quando eu era criança e tava no ensino fundamental e eu morava na casa da minha vó е ela ainda morava com a gente
e aí, quеr dizer, a minha família, morava na casa dos meus avós, sabe, tipo… acho que ‘cê entendeu, né? então…
daí a gente ia pra escola toda empacotada de roupa e tal e a gente voltava de tardezinha, assim, umas cinco horas, então já tava bem nubladinho e frio
e a gente chegava no ônibus, quando chovia era legal porquê a gente ficava desenhando na janela
mas quando não chovia, a gente chegava em casa e aí, a minha vó sempre estava fazendo bolinho de chuva
porquê assim, ela falou que… ela sempre falava que bolinho de chuva é pra se comer quando o tempo tá nublado, então, sempre que ficava nublado ela fazia bolinho de chuva, e o bolinho de chuva da minha vó é uma coisa de outro mundo

…

enfim, e daí, tipo assim, quando eu chegava do colégio…
colégio não, era uma escola primária… primária nada, eu tava no terceiro ano ou sei lá
chegava do colégio e a gente descia do ônibus e assim, quando tava muito muito muito muito frio…
o meu pai tinha um fusquinha, ai que saudades daquele fusca!
daí ele descia o morro porquê tipo, o ponto de ônibus era lá em baixo na rua de baixo, aí a gente tinha que subir um morro de pedra, tipo, o morro era calçado com pedra, e pra chegar na nossa rua, que era a rua lá de cima
a minha rua é uma das ruas mais altas da cidade
essa parte é tipo a bela vista, porquê tipo, é literalmente uma torre aquela… aquele bairro…
mas… a gente percebeu que a nossa rua tinha que subir o morro, daí ele descia com o carro e a gente entrava, daí ele ligava o aquecedor e o vidro ficava todo embaçado
e aí a gente subia de carro até a minha casa, daí quando a gente entrava em casa, velho era a melhor sensação do mundo
quando eu entrava pelo portão, porquê o quintal da minha vó era muito grande, tipo, tinha várias casas no quintal, que era tudo de parente, daí quando eu entrava no portão e eu sentia o cheiro de bolinho de chuva… eu já ficava toda feliz

- oliver hirondelle

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