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letra de tobiano capincho - noel guarany

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este tobiano da estância
foi o bicho mais maleva
que o diabo inventou pra um peão
zóio de chancho, cabano
sargo, coiceiro, aragano
maneteador e bufão

peão que cheg-sse atrasado
na segunda, mui sovado
das farras pelo rincão
já se sabia sua pena
era encilhar o ventena
que -ssim mandava o patrão

uma feita, era segunda
na estância ao clarear do dia
com cara de laço novo, cheguei
já estava o meu povo na mangueira
e alguém gritou, quando já dava o cavalo
lace o tobiano capincho
pra esse que vem dos bochincho
do rincão dos cantagalo

que sina. se eu tinha o peito
mais puro que a estrela d’alva
que bico de beija flor
qual bochincho ? se eu voltava
de ver a prenda que amava
todo enredado de amor

virge do céu! será o diabo
um cristão que andou bailando
por duas noites e três dias
com no ouvido as harmonias
da cordiona retrechando
e o coração sarandeando
numa havanera macia

nos olhos tontos de sono
como em espelho pequeno
aquele corpo moreno
com crespos que o vento bate
e o aroma, a flor e o sereno
que vem na prosa em cochicho
ah! que aroma. eu não vi em bolicho
nem nos baú dos mascates

e os negros olhos ariscos
como iraras bombeadeiras
nas poças que a seca embarra
na sombra de um caponete
e que maneia o ginete
como pialo de cucharra

quanta coisa ela me disse
não dizendo quase nada
quanta coisa ela entendeu
da minha boca cerrada
porteira do coração
e agora eu, moço, monarca
chego batendo na marca
no meu ofício de peão

bonito, agora acordar
de um sonho que é um lindo engano
soltar o corpo franzino
em que envidei meu destino
pra me trompar com o maligno
que é esse capincho tobiano

chego. e, bom dia senh-r-s
largo já meio covarde
e me respondem: boa tarde
dormiu nas palhas, paisano
largue este e traga o buçal
a la pucha, que é desigual
a sorte de um campechano

vinha o tobiano no laço
como dourado na linha
ligeiro como tainha
como traíra de açude
dando mais pulos e saltos
do que um calcuta na rinha

ah! quando a sorte é mesquinha
não hai feitiço que ajude
prá encilhá o venta rasgada
foi abaixo de oração
e já maneado, enfrenado
foi luta prá arreglá os troço
rezei quatro padre nosso
só prá sentar o chergão

cheguei a carona e os bastos
e quando a cincha tinia
o infame se foi pro céu
voltou e tombou de boléo
quase perdendo o chapéu
rezei quatro ave maria

e o urso, como um bodoque
traiçoeiro, olhando prá trás
com a cincha no osso do peito
e eu lhe ajeitando, com jeito
por causa do capataz
depois de bem encilhado
tranqueou com p-ssos de tango
muito mal intencionado

encolhido e retovado
eu vi a minha vida pequena
corri os olhos na chilena
e olhei pra tala do mango
e na voz de vamo moçada
campeei a volta e montei
cert-to e firme nos bastos
já o bicho vinha urrando
ladeadito e se bandiando
como quatiara de arrasto

nós fomos daquela toada
nessa dança desgranida
em que um taura arrisca a vida
só pra honrar a pataquada
depois, de focinho gacho
carona, apero e descida
na fúria despavorida
de um touro na costa abaixo

me encomendei pro senhor
também pra virgem maria
nem sei como resistia
-ssim, blandito de amor
e sem amadrinhador
nesse lançante tremendo
me fui solito, me vando
mais triste que um payador

rodou e ficou roncando
quebrado. é o fim do capincho
e eu paradito e continuo
a pensar desta maneira
por ti, a mais linda trigueira
gineteio a vida inteira
no lombo do meu destino

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