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letra de a carta / nota fúnebre - min1

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[a carta]

hoje eu acordei num corpo diferente
vi o que já havia mas escolhi fechar os olhos
para o quanto tem sofrido essa gente
já não sou higiénico ou saudável

pois a muito que vivo num corpo doente
sem remédio ou cura aparente
sem futuro próspero, sem amor ao próximo
sem nada que seja benevolente

é evidente que estou morto
vivo num inferno surreal
se algo de bom acontecer é rebeldia
nosso sentimento normal é o mal

sentimento nosso é sofrimento
pois foi que nos foi dado desde o primeiro dia
minha vida é nada desde o tempo em que o vento
veio e levou a minha família para bem longe daqui

longe daqui, bem que a tentei seguir
mas no meio desse céu me perdi
no hospital olharam a cena
disseram força senhor luís
quando foi por negligência que eu vi morrer minha wife e os kids

eu pedi a deus, uma luz apenas
do céu só veio água
quando mais precisava
minha resposta foi nada

e o terreno comprado na mão do wezza
hoje foi posto em causa
os faa entraram em cena
hoje fiquei sem casa

o que é que eu posso mais fazer?
já não há motivação para viver
é por isso que vos escrevo essa carta
deitado numa cama
talvez chega um rapper
é seja imortalizada

[nota fúnebre (sr. luís)]

eu podia pedir segundos de vida
mas peço paz, saúde e amor para todos meus n-ggas
felicidades à todos que me amavam e não sabia
quero que deixes cair por eles suas bênçãos divinas

talvez tenha sido ausente quando devia estar presente
sei que o melhor de mim chegou a entristecer inocentes
eu quero ser, mas a minha alma dormente mente
por ter o mal no meu corpo e no âmago da minha mente

irmãos olhei com repúdio porque um dia erraram
quando os meus erros no fundo neles só se espelharam
mas de onde venho, o perfeito que me diga na cara
fiz tudo para ser tudo porque lá nasci sem nada

e aqui estou para ser julgado por quem mais acreditei
neste deus sem cor e forma a quem depositei fé
nem há o que justificar, sequer me dou o trabalho
mas o tom de pele lá fez que com que me tornassem um escravo

e eu orei de verdade, pus os joelhos no chão
mas vi o filme da morte de toda uma geração
família não tinha membros muito menos coração
e não foi tu quem nos alimentou com seu pão

eu vi tragédias dizimar povos, todos acabar todos
vi a galinhas serem destruídas pelos seus ovos
quem fui eu na minha vida? vítima do abandono
humano no meu espelho, na rua mais um outro

com pecados que assumo, salinando pelos olhos
pois tudo que eu vi lá em baixo só motiva meus choros
meus ódios, revoltas, meus prantos, coros, meus votos
viram lutas pela verdade sem lugares no pódio

vi remorsos, só tu sabes o que esses olhos viram
ser humano no meio de animais que raciocinam
monstro desse meio imundo, feliz longe desse mundo
mas contudo me preocupo com os que ainda não saíram

será melhor para onde vou mesmo não sabendo onde é
mas lá vidas não circundam pela riqueza e poder
lá a escravidão é nula com e traga à democracia
e vives felicidade até o final dos teus dias

também sei que não mereço que cá ficar
a vida obrigou – me a mudar
eu sei que devia me culpar
pelos erros que hoje que me estão hoje a julgar

fiz errado quando sabia bem o certo
não segui os teus seguidores não segui teus mandamentos
fui um rebelde sem armas só caneta e cérebro
lutando pelo que faltava aos pobres do meu reino

mas só uma coisa eu peço
olha menos para pecados e mais para o que sofremos
uns vivem a céu aberto, outros nem céu como teto
quantos dormem te pedindo uma gota de sossego

quantos acordam com medo, mais um segundo
no grande inferno que uns chamam terra e eu mundo
onde a ganância colocou o som da justiça no mudo
onde o dinheiro ganhou vida e domina todos e tudo

[outro]

somos todos mortais
somos todos mortais
a vida é a prova
que somos todos mortais

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