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letra de corpo de pedra coração de aço - kosmo & malabá

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[verso 1 – kosmo]
escrevi esta carta uns dias antes
p’ra saberes como estou
já faz seis anos que estou ausente
eu já nem sei quem sou
nem tenho forças p’ra ligar
e p’ra ouvir um “tô”
saudades tuas, da mãe
das manas e do avô
já tentei escrever-vos
mas fiquei só p’lo um excerto
nem fotos vossas chegam
para esconder o meu aperto
as coisas não correram bem
no meu primeiro emprego
imigração é mesmo -ssim
vives no des-ssossego
língua que não entendes
um patrão que te abusa
paga-te três vezes menos
ele sabe que te usa
só porque a tua seleção
não tem a mesmo blusa
queres um contrato de trabalho
mas ele recusa
fazer o quê? voltar à terra
mostrar o frac-sso
mostrar que tudo foi em vão
e dei um p-sso em falso
aguentas tudo, sofres tudo
é isto que eu faço
corpo de pedra
coração de aço

[refrão – malabá]
diz-me se é suposto
impor limite no meu sonho
se o suor que escorre o rosto
equivale ao sangue que ponho
a vida que disponho p’ra muitos é perda de espaço
corpo de pedra
coração de aço

diz-me se é suposto
impor limite no meu sonho
se o suor que escorre o rosto
equivale ao sangue que ponho
a vida que disponho p’ra muitos é perda de espaço
corpo de pedra
coração de aço

[verso 2 – kosmo]
escrevi esta carta uns dias antes
p’ra saberes como estou
já faz 6 anos que estou ausente
já nem sei quem sou
dez julgamentos onze arguidos
e nem tudo acabou
sentenças atrás de sentenças
e é -ssim que vou
visitas já cancelaram
mau comportamento
nem estas 4 paredes me tiram
do movimento
acorrentado por fora
mas nunca por dentro
tenho saudades de vocês todos
n-gga já faz tempo
nem sabes como aguento
lágrimas de sangue
minha cota já faleceu
meu filho já ‘tá grande
arrependimento nunca p-ssa
é um dor constante
só peço a deus me perdoe
e me aguarde um instante
a cana não é fácil
nem sabes o que p-sso
guardas que te fazem abuso
e o pitéu está esc-sso
aguentas tudo sofres tudo
é isto que faço
corpo de pedra
coração de aço

[refrão – malabá]
diz-me se é suposto
impor limite no meu sonho
se o suor que escorre o rosto
equivale ao sangue que ponho
a vida que disponho p’ra muitos é perda de espaço
corpo de pedra
coração de aço

diz-me se é suposto
impor limite no meu sonho
se o suor que escorre o rosto
equivale ao sangue que ponho
a vida que disponho p’ra muitos é perda de espaço
corpo de pedra
coração de aço

[verso 3 – kosmo]
escrevi esta carta uns dias antes
p’ra saberes como estou
já faz 6 anos que estou ausente
e já nem sei quem sou
dizem que uma missão de paz
e que a guerra fintou
mas todos dias há noticias
que a bomba rebentou
vim pelo o orgulho à pátria
mas o que é que eu resolvo
de camuflado botas e uma arma
de fogo
eles vêem como um inimigo
não como um do povo
numa guerra que não é minha
e luto dia todo
imagens vossas no cacifo
não escondem a tristeza
fui destacado p’ra mais três anos
mas sem certeza
eu só quero voltar p’ra casa
para me sentar a mesa
tenha uma filha com seis anos
parece uma princesa
ser soldado não é fácil
mas é isto que eu p-sso
ou volto para casa vivo
ou num caixão com um laço
aguentas tudo sofres tudo
é isto que eu faço
corpo de pedra
coração de aço

[refrão – malabá]
diz-me se é suposto
impor limite no meu sonho
se o suor que escorre o rosto
equivale ao sangue que ponho
a vida que disponho p’ra muitos é perda de espaço
corpo de pedra
coração de aço

diz-me se é suposto
impor limite no meu sonho
se o suor que escorre o rosto
equivale ao sangue que ponho
a vida que disponho p’ra muitos é perda de espaço
corpo de pedra
coração de aço

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