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letra de do catre - kalew nicholas

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parte i

[intro]
vamo’ com calma
era só abstração

[verso 1]
fugaz, me estraguei em tantas fugas
sem notar que era alcatraz
que essas curvas são imundas
e que nelas tudo jaz
lá fora enxergo paz
aqui dentro só meus ais
sou um péssimo parceiro pra mim mesmo
e, inteiro, preencho a cabeça c’outro cais
urubus se digladiam por minha carne

[verso 2]
me levanto no dia de cima do catre
enquanto mórbidos os pássaros sórdidos
ocultam o sol que alimenta minha pele
tornados estéreis sobrevoam o abismo
de ventos inertes em áreas tão férteis
vejo irem embora, pena a pena, mês a mês
me absolvo surdo dos surtos e gritos
de abutres iníquos
distingo a inércia do olvido
o passado não se move e agarrá-lo é um castigo
[verso 3]
pensamentos não me definem
não sou triste ou feliz
mas humano satisfeito
ora taciturno, lúgubre
ora animoso, exulto
cada vez mais o segundo
tristeza não é abrigo
exílio é suicídio
isolar-se é o perigo
glamour não é bonito
noutro século era hospício
hoje antidepressivo
e cuidado pra curar
sem que se chegue a isso
já que não consigo
o desvencilho do abismo
o abraço e habito com amigos
utensílios vitalícios
que o transformam em paraíso
(já que não consigo
o desvencilho do abismo
o abraço e habito com amigos
utensílios vitalícios
que o transformam em paraíso)
parte ii

[intro]
falar, falar, falar…

[verso 1]
falar sobre tristeza não é tornar triste
como exibir-se feliz não é tornar alegre
dormindo sob as lentes de perec
queria ter passado esse semestre em timelapse
me culpar pela infelicidade só me deixou ainda pior
taciturno, cabisbaixo
buscando no chão motivo a olhar pros céus
no tribunal me fitam réu
imperfeito, falho, no castelo
normal ser ingrato ao léu com as costas feridas de ferro
mas de costas pra essa mó
reclamo mas não me entrego
não preciso nem ter dó
pois sou feliz sempre que posso
tristeza é só um empecilho
elefante na sala morto
que eu desosso quando lido
como problema a resolver
e não cadáver a ser oculto
desová-lo no rio, chucro
só atrai no outro dia urubus
o cheiro sempre surge
enfrentar a tristeza traz um cheiro diferente
garoa no asfalto quente
poeira baixa, narina fresca
o céu mostra os dentes e eu o observo na varanda
as nuvens se dissipando e o odor de resolução
que admite que mais tarde ainda haverá outras nuvens
garoa, chuva e tempestade
mas que o céu sempre sorri
a tensão das notas acrescentadas
precede a solução naquela do mingus
e felicidade é olhar pro nada
e ouvir da folha de uma árvore ou do vento que a corta
a execução improvisadamente perfeita
de goodbye pork pie hat
que lamenta
mas consola
[saída]
que lamenta
mas consola
lamenta
mas consola
mas consola

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