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letra de luta por mim - jup do bairro

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coisas precisam morrer para que outras nasçam
árvores podadas para poderem dar frutos
placentas, corpo, organismos não orgânicos
sintomas de dor, da morte vida, sabe?
e se a força não mais estiver lá
sei que não fraquejei e você há de lembrar

um dia minhas pernas não vão mais me aguentar
e cada passo que eu der menos enxergar
em um momento, minha voz rouca nada vai soar
luta por mim

e quando minhas mãos não puderem mais segurar
suas mãos nas minhas, não é pra soltar
sei que não estive só, me resta confiar
luta por mim

quero que continue a sorrir
mesmo com a ideia de me repartir
olha só o que eu construí
as palavras tortas eu não me arrependi
se eu tivesse pedido seria, luta por mim

e agora vocês não vão me esquecer né
fui imortalizado por um mural na paulista
vocês nunca pularam no meu show
mas agora usam meu nome pra pedir por justiça
e nunca nem ouviram mesmo que eu gritasse
mas agora que eu virei estatística
vocês vão usar meu nome e minha imagem
pra pedir pelo fim da polícia
se eu morresse hoje, amanhã era notícia
mas quem eu era isso ia ser questionado
e o que que eu fiz pra tomar 3 tiros no peito
preto na rua de noite com certeza era algo errado
virei postagem na sua rede social pela
se lamento e escreveu sobre a repressão policial
sua hashtag foi o ponto final
dizer “vidas negras importam” para você foi o grande diferencial
é que toda vez a mesma merda
vocês matam o meu de carne pra fazer o de pedra
movido pelo tesão por tragédia
agora morto eu tenho mais voz do que vivo, parece comédia
deixa as minhas lembranças para os meus
deixa minha mãe chorar minha morte e vê se não interfere
que você não entende o porquê um de nós morreu
e o quanto dói ser invisível pela cor da sua pele
não fui criado para agradar sua raça
e mesmo assim vocês lamentaram porque eu parti cedo
mas eu já te trombei em vida
e mesmo sem ter feito nada você mudou de calçada por medo
não quero meu nome no seu protesto dentro da sua faculdade onde é raro ver preto
nós não habitamos os mesmos lugares
você falar que sente o mesmo que os meus não é normal
e só lembrar que preto existe quando morre
é aceitar que preso ou morto já é algo cultural
vocês não vão mudar porra nenhuma
mais um corpo preto no chão e não muda porra nenhuma descartável igual o cigarro que você fuma
para você foi só mais um e não muda porra nenhuma

vocês não vão mudar porra nenhuma
mais um corpo preto no chão e não muda porra nenhuma descartável igual o cigarro que você fuma
para você foi só mais um e não muda porra nenhuma

quero que continue a sorrir
mesmo com a ideia de me repartir
olha só o que eu construí
as palavras tortas, eu não me arrependi
se eu tivesse um pedido seria, luta por mim
se eu tivesse um pedido seria, luta por mim

eu não vou morrer
eu não vou morrer
eu não vou morrer
eu não vou morrer
eu não vou morrer
eu não vou morrer
eu não… eu não…
eu não vou morrer
eu não… eu não…
eu não vou morrer

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