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letra de efeito borboleta - joão tamura x beiro

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[verso 1: joão tamura]
a noite cai como uma vertigem
já não ouço o que os ossos dizem
espero que as fúrias nos pisem ou que os sonhos se cristalizem
rezo a nomes que não existem – que os loucos profetizem
e que eu escreva sempre a vida que todos nossos corpos fingem
o sono perde alcanço, dobro as horas de adamanto
quero tanto ir-me embora como josé mário branco
acorda-me deste pranto
vou-me só no mal do canto
bebo todo o teu encanto e estе em prol do meu engano
sou mеnos que um lugar, menos pessoa, pó que ecoa
e se este quetzal não voa, cresce só, morre em lisboa
pus veneno nesta veia – esquecido pelo tempo
nus derretemos pompeia e eu caído em cada erro
se o céu nunca mais nascer: tu dá-me as mãos e corre
para nunca mais perder ou que a promessa vã não brote
se o nosso amor morrer, que então teu coração galope
e se algo mais de nós crescer – que sejam só manhãs melhores

[verso 2: joão tamura]
sobre as minhas falhas: quantas epopeias conto?
sei-as numerosas como as veias que tenho no corpo
cruzo meio mundo, ao teu encontro, meio morto
aos meus olhos, dei-te tudo
enquanto tu: amei-te pouco
desculpa-me este peito: tu merecias “tão mais flores”
eu fotografo a preto e branco e tu merecias “tão mais cores”
perdoa-me este jeito – percursor de mil defeitos
mas eu juro seguir-te inteiro seja lá para onde fores
em busca da saída: amor, fujo, vê-nos longe
anseio a vida digna num estate a sul de londres:
brixton, peckham
saio de casa com a lua e volto quando os estores se fecham
no metro para victoria pois os sons não batem vendas
sempre atento às horas pois sonhos não pagam rendas
outrora mãos jovens que de noite atavam vendas
roubavam jóias, rasgavam rendas
percorro as avenidas em prol de um trabalho digno
como assim criar um filho só com um ordenado mínimo?
os nossos dois salários nem dão para comprar-lhe os livros
e estes poemas sem sentido não me servem para o currículo
preciso mais: onde eu pertenço ou onde vamos?
já não falo com os meus pais há quantos meses ou quantos anos?
sem poder contar a quem amo os meus segredos, medos, prantos
as paredes nas quais me tranco
onde não existem tempo ou danos
onde eu perdido, imagino mundos – tantos
e afasto-me tanto deste
tantas vezes pouco humano
tu dá-me vinho
escrevo menos, bebo, canto
e eu só quero ficar sozinho como josé mário branco

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