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letra de sentença à nascença - ikonoklasta

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[letra de “sentença à nascença”]

[verso 1]
raiva é o que me preenche a cada momento
largado à própria sorte, idade 9, pai morre
a mãe foi dentro, tenho fome
estou sedento, estou confuso, estou ciente
que estou sozinho para sempre
estou com frio mas aqueço
sou bravo mas temo pelo meu futuro
quando ebulir, explodir e for levado à extremos
sou criança sem direito a infância
vítima da ganância e não das circunstâncias
sou para a sociedade o mesmo que água contaminada é para as plantas
sou poster para slogans onde lês: “acabemos com isto”
apenas propaganda barata dе políticos
sou falado e sou esquecido, sou o pеcado e o castigo
chamam-me: “puto de rua”, “sem-abrigo”
mas o que eu sinto é que sou
apenas um segundo no tempo que não deveria ter existido

[refrão]
eu não pedi para vir, nada fiz para sofrer assim
todos estão a assistir e o que sentem por mim é
ódio, nojo, medo, indiferença
foi a minha sentença à nascença
eu não pedi para vir, nada fiz para sofrer assim
todos estão a assistir e o que sentem por mim é
ódio, nojo, medo, indiferença
foi a minha sentença à nascença

[verso 2]
vi horrores, vi mortes
ouvi balas como sinfonias
tapei os corpos à minha família
aceitei a rua como madrinha
estive em lares mas fugia
a liberdade era já como o oxigénio, sem ela morria
padre horácio, meu professor da vida
palavras de sabedoria eram como armas, usava-as no dia-à-dia
consumi drogas e adormecia com a sensação ilusória
que tudo estava bem e de manhã seria outra história
adoeci e mendiguei por ajuda
os hospitais não tinham agulhas
as clínicas só abrem a porta a quem tenha a carteira cashuda
atingi estado crítico, não me mexia, deitado no esgoto onde vivia
com diarreia, sem forças, dormia e acordava coberto de moscas
na minha própria caganeira
chorei, não de dor mas de raiva e tristeza
amargura, ter de viver um nível abaixo da pobreza

[refrão]
eu não pedi para vir, nada fiz para sofrer assim
todos estão a assistir e o que sentem por mim é
ódio, nojo, medo, indiferença
foi a minha sentença à nascença
eu não pedi para vir, nada fiz para sofrer assim
todos estão a assistir e o que sentem por mim é
ódio, nojo, medo, indiferença
foi a minha sentença à nascença

[verso 3]
muitos acreditam no destino mas eu não
porque se a minha vida ‘tava escrita
filha-da-puta do escritor e mais a sua mãe
porquê é que tem que ser tão desigual?
eu luto para desenrascar o prato diário
ele faz 3 refeições, às vezes 4, tem carro
e nas férias vai para portugal
a revolta instalou-se em mim
tinha chegado o momento
passei a andar armado, roubava gente
fui apanhado algumas vezes
e a isso devo alguns buracos onde era suposto estarem dentes
fiz coisas feias, não me arrependo de nada
é a luta pela sobrevivência
quando as pessoas não são educadas a solução é a violência
não tenho ninguém para fazer orgulhoso
por isso não me orgulho de mim próprio
puto e já sem gosto pela vida
na cara a expressão revela ódio
encaro o futuro olhos nos olhos
nada de novo, não há traços risonhos
aquela nuvem carregada continua a assombrar os meus sonhos
e quando pensares nos teus maus bocados
lembra-te que eu já estive amarrado a pneus
à espera da vez de ser queimado
fiz promessas a um deus que não acreditava existir
e na hora do fósforo cair
o juíz perguntou-me a idade, eu disse 15
ele não conseguiu conter a lágrima, caiu
e eu senti-me realizado
alguém sentiu alguma coisa por mim
não é que é novidade?
[refrão]
eu não pedi para vir, nada fiz para sofrer assim
todos estão a assistir e o que sentem por mim é:
ódio, nojo, medo, indiferença
foi a minha sentença à nascença

eu não pedi para vir, nada fiz para sofrer assim
todos estão a assistir e o que sentem por mim é:
ódio, nojo, medo, indiferença
foi a minha sentença à nascença

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