letra de a razão - carlos paião
algures na tarde há um fumo que arde
no sangue de dois faladores
discutem, agitam e com o que gritam
atraem mais espectadores
têm raiva nos dentes e fogo no olhar
atiram serpentes de fúria ao falar
perguntam à toa, respondem que não
e mesmo que doa, hão-de ter a razão
a razão
com frases alheias defendem ideias
que ouviram alguém defender
arriscam a fé e enganam até
se sentirem que podem vencer
e não buscam verdade, que é isso afinal?
viva a tempestade, mentir não faz mal
avançam nos gritos, talvez frustração
e por ditos não ditos lá têm razão
a razão
a razão
e uma criança sem tempo aproximou-se, atrevida
e tem na frente um exemplo do que é ser gente crescida
afasta-te já, não demores por cá
tu não ouves, não olhas, não vês
tu és simples e justa, ai eu sei quanto custa
tentar aprender os porquês
tu és vida e bonança depois do furor
és sol de esperança de algum sonhador
sorris na beleza, na tua ilusão
tu tens a pureza de não ter razão
ter razão
eu invejo o sorriso que agora te vi
criança, eu preciso lembrar-me de ti
na vida tão escura tens luzes na mão
o sonho, a ternura, o amor, a razão
a razão
a razão
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