letra de alfazema - capicua
[verso 1]
eu calo as palavras, poupo no vocabulário. é que
para o meu silêncio ainda não há um dicionário
e eu não falo sem pensar e não quero pensar demais
dispenso interpretações emocionais
como todas as mulheres quero sentir que sou diferente
sou o cliché da vida toda pela frente
carente q.b. como um domingo persistente, em que
não sei porquê a gente tem o olhar ausente
sou insegura, ponho a lupa nos defeitos
tenho a fúria do espelho, dúvidas no peito
às vezes não me valorizo, não grito quando é preciso
não tenho juízo e vivo em função de outro individuo
sou imperfeita mas esse é o nosso carisma
se cisma e não aceita, não consegue ver um cisne
beleza não se finge, aquilo que tu emanas, mana
como uma esfinge fica sólida, uma deusa humana
[bridge]
e quando fraquejares vais repetir num sussurro
aquilo que eu canto p’ra sorrir num dia escuro
aquilo que eu canto p’ra sorrir num dia escuro
[refrão]
eu cheiro a alfazema. eu sou poema
eu sou aquela que tu querias ao teu lado no cinema
eu cheiro a alfazema. eu sou poema
eu sou aquela que tu querias ao teu lado no cinema
[verso 2]
somos o fruto da cultura que nos tolhe
que nos escraviza p’la expectativa que escolhe
impor em nossos corpos tortos para caber num molde
impor em nossos sonhos mortos para servir a prole
comportamentos amenos a menos que sejas louca
com recato e em privado não te exponhas como a outra
abre menos essa boca, poupa o teu questionamento
rosto e corpo no ponto e com pouco pensamento. tento
fazer diferente, ser diferente dessa norma
militantemente. ser exemplo, contradizendo-o sempre
contradições nascem com tradições opressivas
como lições para sermos fracas e reprimidas
sem auto-estima postas de lado como um talher
não foi p’ra isso que nasci uma mulher
não vou c-mprir com a puta da espectativa
não é para ela que oriento a minha vida
[bridge]
não vou c-mprir com a puta da espectativa
não é para ela que oriento a minha vida
e fraquejando vou repetindo num sussuro
aquilo que eu canto p’ra sorrir num dia escuro
e fraquejando vou repetindo num sussuro
aquilo que eu canto p’ra sorrir num dia escuro
[refrão]
eu cheiro a alfazema. eu sou poema
eu sou aquela que tu querias ao teu lado no cinema
eu cheiro a alfazema. eu sou poema
eu sou aquela que tu querias ao teu lado no cinema
[verso 3]
se o cor-de-rosa, vem colorir o cinzento
e se querem que o embrulho tape a dor que dói por dentro
eu renuncio ao desespero, eu recuso o que não quero
não alimento o degredo que deriva do apego. e peço
ao universo que me dê o que mereço
sei que recebo o que ofereço de regresso sempre em dobro
não me contento com pouco, não cobiço o que é do outro
eu acredito no meu esforço e ergo sempre o meu pescoço. posso
perder-me às vezes, não vendo a rosa-dos-ventos
mas tento deixar migalhas para saber voltar a tempo. posso
perder-me às vezes, não vendo a rosa-dos-ventos
mas tento deixar migalhas para saber voltar a tempo
[refrão]
eu cheiro a alfazema. eu sou poema
eu sou aquela que tu querias ao teu lado no cinema
eu cheiro a alfazema. eu sou poema
eu sou aquela que tu querias ao teu lado no cinema
(eu cheiro a alfazema
eu sou poema…
eu sou poema…
eu sou poema…)
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