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letra de chances e paixões - zinho voador

estourando trincos
palavras que atiram pra me ferir, são as mesmas com que brinco
silêncio que infesta o recinto
em festas solitárias
entre maços de cigarro e garrafas de vinho tinto
abandonamos nossas confusões diárias
vimos o dia clarear
conversamos sobre ex e seus ciúmes
sobre filmes indicados ao bafta
sobre os mistérios de kafka
ela me jogou no sofá
me pediu pra ficar
mas tem coisas que só se alcança, se outras sacrificar

quanto mais velho eu fico
mais eu fico chato, enjoado e fechado
tenho até deixado ditados ac-mulados
tenho até deixado de ir em alguns roles, quem diria
quem me viu, já não é quem me via
nostalgia bate tanto
e bons amigos que tinha, hoje tão cada um em um canto
hoje não tenho dez por cento daquilo que imaginava há dez anos atrás
ainda não sei o nome do vento
e ainda peco em at-tudes por pensar demais

chances que cercam
paixões que secam
chances me seguem
paixões me segam

me sentia tão estranho na minha prisão de sonhos
trocando as quatro cores da heidelberg
a vida do poeta contemporâneo
é como um filme dirigido pelo cronnenberg
a alma faz do corpo um albergue
no impulso de um copo com coca, gelo e dreher
conforme for propício
subst-tuindo vícios
dos meus pais e avós
logo após indícios de daniel berg
não é falta de respeito
mas não cabe na pauta o que é obsoleto
não cabe no peito o que é absoluto
nesse tempo curto em que jovens se viciam em coisas que não existem
formulando antíteses pra velhos viciados em drogas que ainda nem foram sintetizadas
rindo da própria desgraça
esperando que, de graça, alguém o salve
é como um espião que acredita no próprio disfarce
e vê a culpa pendurada num molho de chaves

- zinho voador

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