letra de dina - teotonio burned
eu sou queimado
ardi com meus avos
levados em um convés como produtos
sem voz
amargo…
sem tempo pra doçuras
nem dores de chibatadas nas plantações da amargura
e as ruas da amargura
nos lembram quão salgado era o suor e as lagrimas da escravatura
é irónico era açúcar que plantavam
vida dura por cima do algodão
nao penses fora da caixa nem de um saco de sisal
e um metical, um cabedal
e os bolsos sujos dos limpos da capital
um metical um recital
e a melodia do tilintar das moedas
não há espaço pra memórias de massacres
de mueda
só memórias de heranças epigenéticas
pretos e macacos partilhavam a imagética
verse ii
eu vim de longe, sei bem qual é a história
e a historia ja diz-me tudo não contando a minha história
nos tempos do capataz
dina era a hora do almoço
trabalhavam duras horas até ver o sol posto
o que mudou?
dina agora é o fim do mês
continuamos escravizados
sem correntes nesses pês
e o salário é quem nos dita quem é o assimilado
preto sempre foi vítima?
o mesmo o preto que vendeu o preto na orla marítima?
ou o preto com poder que tira-nos até a decima?
ínfima moeda que não temos
ou o preto que trocou o outro preto pela pólvora ?
abra olhos, abra os livros se procuras liberdade
tu és mais que um recurso ou um meio de produção
beba água e tem cuidado com essa vida da cidade
os calos estavam na mão, hoje há calos no coração
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