letra de ensaio sobre a cegueira - subsolo
[intro]
– mas e…
se eu precisar do olho, como vou abrir e fazer com que me ajude?
– não será necessário! o olho saberá de sua necessidade antes de você
[verso 1: xará]
eu tô no escuro, e o pior é que eu não quero ver
a noite continua em mim mermo se o sol nascer
eu aprendi a ter disciplina pra viver
sem me humilhar, sem questionar e sem crescer
eu ando estranho, mas estranho ninguém vai notar
eu tento dichavar meu olhar pra não delatar
a fé promete me salvar depois me calar
nisso um abraço vem me distrair, depois me cobrar
vem me destruir e se eu marcar quer me ver chorar
viu algum caminho pra voltar?
eu disse: não!
a vida segue mermo -ssim sem direção
eu danço com o diabo sempre na intuição
mais perdido do que cego em tiroteio
meus 20 anos tão no fim e ainda tô no meio
meu currículo tá cheio de mentira, eu fiz de tudo
enquanto rola um marvin g-ye o quarto é meu escudo
eu vivo a vida na paz de quem tá em cima do muro
eu quero um grito de alforria, mas só vem sussurro
[ponte]
dentro em pouco você abrirá os olhos
[refrão]
os olhos verdes não valem nada sem visão
os olhos negros refletem as fases que virão
olhos azuis procuram mas não encontram luz
os olhos de nada valem quando a cegueira conduz
[verso 2: gato congelado]
minha vida numa base, sentimentos vão ao vento
meu coração tá congelado ao relento
eu continuo com o pensamento a mil
até o momento do tumulto
eu vejo um vulto e fico sem entender nada
vendo tudo nesse mundo que ninguém vê nada
a sensação é de luz apagada
minha visão se distorce
e mesmo que eu me esforce
eu não consigo me mover pra ajudar alguém que no chão se contorce
invisível entre a multidão, não sinto meus pés
tentei contar os p-ssos não cheguei ao dez
(mundo de infiéis)
ouço vindo das calçadas junto à risadas insanas
sussurros, infâmias das damas da noite
o dia agora é noite
e minhas pupilas dilatadas não suportam mais açoite
[ponte]
visão além do alcance
[refrão]
os olhos verdes não valem nada sem visão
os olhos negros refletem as fases que virão
olhos azuis procuram mas não encontram luz
os olhos de nada valem quando a cegueira conduz
[verso 3: matéria prima]
em plena luz do dia não enxergam um palmo de realidade
não se apoiam na bengala da verdade
pra atravessar as ruas da amargura da cidade
visão se ofusca com brilho de ofertas de novidades em vitrines
pontos de vista sofrem miopia
então o terceiro olho precisa de terapia
pra todo mundo tá embaçado
no meio da fumaça do fogo cruzado, tentando achar o plano traçado
a ótica caótica deixa tudo fora de foco
mas a mente fica mais clara quando as lentes eu troco
e vejo a imagem da sorte no mundo que parece um velho-oeste
sigo procurando um novo norte
tendo a justiça como guia, pois ela enxerga no escuro
e mostra que o futuro não é tão obscuro
quando o sorriso do meu filho acalma minha rotina
e o céu aberto infiltra em minha retina, mas…
[refrão]
os olhos verdes não valem nada sem visão
os olhos negros refletem as fases que virão
olhos azuis procuram mas não encontram luz
os olhos de nada valem quando a cegueira conduz
os olhos verdes não valem nada sem visão
os olhos negros refletem as fases que virão
olhos azuis procuram mas não encontram luz
os olhos de nada valem quando a cegueira conduz
[saída]
qualquer cego enxerga que os problemas são outros
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