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letra de cidade (parte i) - sinistro

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cidade de ruídos virginais
as suas pessoas vagueando pelas ruas que dançam verticais
a calçada pisada, a calçada sentida
uma euforia secreta, imperturbável
olhos fechados por dentro para ninguém ver
ser invisível/indivisível para invadir

o presente solene nas caminhadas
encontradas ou perdidas efémeras
uma cadeira que senta para sentir
os ruídos milagrosos de uma respiração

vozes anónimas que se atiram
vão e vêm, embalados no seu discurso
sôfrego,paciente,pálido
veste modernas,antigas,param,correm
lamentam um atraso

uns segredam que amam, outros segredam que gritam

há os votos de silêncio que não se comprometem
com os movimentos mundanos
são oblíquos momentos que se dissipam com o cheiro da cidade

o cheiro a castanhas que se exalta à entrada da estação
o homem que vende livros e pinta sapatos
seus braços viajam, enquanto a sua cabeça procura
procura
palavras,sentidos,rugidos
ou filtros para um cigarro

e a cidade continua emergente, rolante
sem o tempo contado para histórias imberbes ou redundantes
está em si, habita-se
sem o tempo alado que se esconde na travessa moribunda

hoje o tempo vai como ninguém quer

hoje o tempo vai como ninguém quer
o tempo p-ssa mas sem tocar
surdo a um p-sso
leve e plácido
olha uma esquina de ventre aberto
muge uma trança de enleio secreto
nasce o pó
do vento fosco a mergulhar no rio livre

as caminhadas na areia cimento
são cinzas de ontem a adormecer

a cidade em mim
a cidade em mim

invisível / indivisível
seus braços viajam
palavras
sentidos
rugidos

e a cidade continua
a cidade continua
sem o tempo contado
está em si
sem o tempo alado

uns segredam que amam
outros segredam que gritam

olho pelo canto do olho
há uma história por recortar
vozes dentro de um sonho
em bicos de pés
em bicos de pés
dedos a soletrar

corre dentro de mim
foge dentro mim

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