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letra de façanhas e fracassos do guarda serôdio - sérgio godinho

cacei-o! cacei-o!
eu cacei e recacei aquele monstro horroroso
huh, fale agora
vitória, vitória
chegou o momento de anunciar
o aprisionamento do monstro
flagelo do nosso sossego tão precioso
monstro horroroso
ó senhor guarda serôdio
não é nenhum monstro horroroso
ele é nosso amigo
amigo? ora, qual amigo qual carapuça?
esta monstruosidade é um inimigo social
e potencial da tranquilidade, da paz e sossego deste parque
de que eu sou o fiel zelador
silêncio! silêncio! ou tenho de os encarcerar?
os desacatos tumultuosos são interditos pelo mcpp
vós sabeis o que é o mcpp?
sabemos muito bem, é o manual das coisas proibidas no parque
ora ‘tá certo, ao menos vós sabeis o nome do regulamento
bom, mas agora toca a andar
tudo para fora da zona de segurança
toca a andar, a desandar e a re-desandar
o senhor guarda serôdio é muito mau, ai é, é
o quê? (oh, seu guarda)
anita, deixa lá, vamos embora
deixa, depois reaparece…
ora, nem penseis
nem penseis em reaparecer aqui, ouvistes?
raio de miudagem inopinada
ó senhor guarda serôdio francamente
então isso é maneira de tratar a rapaziada?
ora se é maneira ou não é maneira eu é que sei!
eu é que sei e ressei do cumprimento das minhas funções
‘tá bem, mas tenha calma
a autoridade não pode ter calma, está a perceber?
não pode ter calma
a autoridade tem de ser impra… impraticável
implacável?
ou isso, ou isso, implacável, pois
ainda bem que encontrei alguém que me compreende
pois
pois, pois e repois
nem queiras saber o que é a vida de um polícia
só me aparecem situações inopinadas, raio de sorte
raio de sorte? porquê?
andar pela rua de madrugada
sem se saber em quem dar traulitada
e sem nada que valha a pena assinalar
ou levar para a esquadra, nadinha de nada
às vezes parece que nada resulta
queres passar multas e pedem desculpa
que azar, não dão uma chance a um polícia de se esmerar
raio de azar

- sergio godinho

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