letra de às vezes o amor - sérgio godinho
que hei-de eu fazer
eu tão nova e desamparada
quando o amor
me entra de repente
p’la porta da frente
e fica a porta escancarada
vou-te dizer
a luz começou em frestas
se fores a ver
enquanto -ssim durares
se fores amada e amares
dirás sempre palavras destas
p’ra te ter
p’ra que de mim não te zangues
eu vou-te dar
a pele, o meu cetim
coração carmesim
as carnes e com elas sangues
às vezes o amor
no calendário, noutro mês, é dor,
é cego e surdo e mudo
e o dia tão diário disso tudo
e se um dia a razão
fria e negra do destino
deitar mão
à porta, à luz aberta
que te deixe liberta
e do pássaro se ouça o trino
por te querer
vou abrir em mim dois espaços
p’ra te dar
enredo ao folhetim
a flor ao teu jardim
as pernas e com elas braços
às vezes o amor
no calendário, noutro mês, é dor,
é cego e surdo e mudo
e o dia tão diário disso tudo
mas se tudo tem fim
porquê dar a um amor guarida
mesmo -ssim
dá princípio ao começo
se morreres só te peço
da morte volta sempre em vida
às vezes o amor
no calendário, noutro mês é dor,
é cego e surdo e mudo
e o dia tão diário disso tudo
da morte volta sempre em vida
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