letra de para não esquecer - rodrigo negão
pra não esquecer
brasil 1625
olha o negro recém-chegado é magote novo
macho e fêmea em perfeito estado e conservação
vinte mil reis o são, sete mil e quinhentos os estropiados
olha o escravo angolano purinho
é magote novo, macho e fêmea cantador
se desagradava o branco: tronco
pescoço, pés e mãos
amarrados entre dois pedaços de madeira retangular
se a ofensa requeria castigo mais prolongado
cepo: longo toro de madeira que o negro
deveria carregar na cabeça, preso por uma corrente ao tornozelo
se fugisse, libambo
argola de ferro que rodeava o pescoço do negro
com uma haste terminada por um chocalho
ou então a gargalheira, ou golilha
sistema de correntes de ferro
que impedia os movimentos
se furt-sse: prendiam-lhe na cara
uma máscara de folhas de flanders
fechado no occipital por cadeados
e penduravam lhe nas costas
uma placa de ferro com os seguintes dizeres
ladrão, fujão
brasil, 2015
um carro com cinco jovens pretos, desarmados
é alvejado por cento e onze tiros no rio de janeiro
todas as balas partiram de armas da polícia militar
ah, brasil
um país onde pouca coisa mudou!
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