letra de cárcere - phantomedb
[verso]
a porta abre e é a ultima refeição do dia
feição de agonia – alegoria a uma alegria
ilegítima
de estarmos cativos da nossa índole
sem logística possível que nos salve deste síndrome
a porta da solitária nem é desconfortável
não há nada mais intimo do que este cubículo mínimo
a mente é cicatrizável até ao ponto mais intimo
mas o preço a pagar é certamente indagável
a porta encerra e eu engoli o ultimo grito preso na traqueia
queimada pelo nеro da verborreia alheia
quе sai da minha boca aberta
enquanto espero que o dia seguinte deste inferno venha
se estou cego que esteja
se sou enfermo que seja
a liberdade de não a ter é libertária na mesma
e se o meu amo sou eu próprio
e o propósito vem do ódio
não me importo com as algemas
agarradas a canetas
escrevo nas paredes os dias que me faltam
infinitos, que me matam e me fazem sentir vivo
as cordas que me atam são como massagens no ego
debilitado, não o nego, enquanto preocupações saltam
dançam, estragam-me, enquanto ofego de dor
e tento imaginar como seria estar solto
eu não me apego a sonhos mas estou sempre com sono
e estou sempre confuso e sou sempre contido
contigo, e comigo próprio
com tudo e todos no que digo
sou pródigo a ser vulgar
talvez um dia me apeteça voar
mas por agora quero aviar uma dose de xanax
um dia cheiro antrax e sou livre de vez
e tens uma desculpa para nunca mais me veres
por enquanto estou num cárcere e mereço estar
porque tenho a chave e mesmo assim não quero escapar
é fácil viver numa prisão quando já se nasce nela!
(e a liberdade pode ser a pior cela)
num campo de tiro, deus e o diabo gozam o fim-de-semana
alternando entre si o alvo da matança
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