letra de 1974 - perigo público & sickonce
severino nasceu na guiné-bissau
mas na guerra colonial decidiu morrer por portugal
apaixonado por fado e bacalhau
desde pequeno que sonhava em conhecer a capital
vestir como os brancos que ele via no jornal
de sapatos engraxados no marquês de pombal
ser tratado por senhor como o patrão era
ter um pedaço de terra que desse frutos pela primavera
alistou-se no exército de salazar
na esperança de vir a ser um herói do ultramar
foi para jamba para morrer e matar
mas prometeu não partir sem ver o eusébio jogar
quando a guerra acabou, o sangue dos irmãos
que lhe escorria pelas mãos não deixou outra opção
arrumar as bicuatas, apanhar o avião
e finalmente conhecer a terra do patrão
na capital não era visto como igual
chamavam-lhe macaco sem rabo, lixo colonial
volta para a tua terra, os pretos cheiram mal
esc-malha africana, fora de portugal
mas o seu maior orgulho era o 3.º pelotão
e um cartão de cidadão que foi dado por obrigação
porque os pretos não cantam o hino, pretos não são nação
pretos morrem “no guerra”, mas não vão para o panteão
e é com as mãos calejadas das obras
boca enjoada das sobras
que contava as façanhas da tropa
patriota e orgulhoso de ter lutado pela nação
que o acolheu como um cão, que o tratou como um cão
que o viu morrer miserável sem água nem pão
mas o avô nunca reclamou de nada
morreu agarrado à bandeira e a um disco da amália
enquanto me dizia…
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