letra de fiel ouvinte - nocas infinito
verso:
tantas vezes que eu estive contigo
oficialmente apresentado pelo josé marinho
antena 3, 1994
por mero acaso, um repto foi-me lançado
ouvi-te, gravei-te, plenamente deslumbrado
quem diria que serias o meu eterno aliado…tantas…
tantas vezes, à tarde, depois da escola
a minha vida adquiriu uma nova banda sonora
na fita de uma k7, p-ssava-te a pente fino
eras distinto e um il-stre desconhecido
foi lindo! amor à 1ª audição
início da adolescência, motivo de afirmação…tantas…
tantas vezes, na valentim de carvalho
com o dj serial a indicar-me o atalho
fui-te seleccionando, comprando, coleccionando
o teu mundo era imenso, mas eu lá fui entrando
de ouvido atento, tentando-te perceber
mas só a tua batida, já iluminava o meu ser…tantas…
tantas vezes, em viagens de carro
que se foda o rádio, eu tinha um walkman ao meu lado
1º de k7s, depois de cds
muito antes de cdrs e de mp3s
álbuns eram sugados do princípio ao fim
cada música, cada batida, num autêntico frenesim…tantas…
tantas vezes no comix, à 5ª feira
podia-te partilhar durante uma noite inteira
ouvi os teus representantes mais notáveis
momentos memoráveis, jamais igualáveis
90s, para mim a tua era dourada
tornaram a minha audição exigente e educada…tantas…
tantas vezes no mítico 2º piso
o professor mostrava-te simultaneamente traduzido
eu percebi o teu calão, no teu idioma original
novo alento, novo ritual de escuta essencial
do mais mafioso até ao mais consciente
eu entendi quem te fazia de uma forma coerente…
tantas vezes, refundido em casa
napster ligado, altas horas da madrugada
intensiva investigação auditiva sem rédea
a meta? reunir a tua enciclopédia
fala-me em músicas, eu falo-te em discografias
mcs, produtores, samples, rimas e batidas…tantas…
tantas vezes, quando te comecei a produzir
peço-te imensa desculpa, mas tive que te trair
tive que ouvir outros estilos para te compor
da clássica ao soul, do pop-rock ao hardcore
cada loop criado parecia alquimia
matéria-prima para várias horas de escuta ativa…tantas…
tantas vezes, no meu 1º carro
vidros em baixo, o teu volume no máximo
banco reclinado, velocidade de cruzeiro
uma mão no volante, mesmo típico azeiteiro
mas a invicta, ainda pouco te ouvia
eu sentia-me um profeta a espalhar a melodia…tantas…
tantas vezes em mágicos fins de tarde
com dificuldade, eu aguentava a tua saudade
pc ligado, o mais recente álbum em rotação
m-st-rbação, banho, preparação para o serão
intervalo, refeição de rápida degustação
retorno à suposta, mas prezada solidão…tantas…
tantas vezes na carrinha do trabalho
cds, tenho um baralho, escolho o mais adequado
a1 pela frente, tempo e calma para te ouvir
dás-me puro prazer sem nada a exigir
os caminhos desta vida tornaram-me afortunado
pois eu posso-te escutar enquanto ganho o meu salário…tantas…
tantas vezes que eu adormeci contigo
acordei contigo, viajei contigo
dancei contigo, pintei contigo
criei e escrevi poesia contigo
dizem que és monótono, demasiado repet-tivo
mas tens tudo o que procuro e sem ti eu não vivo…tantas…
scratch: “antes de ser praticante, eu sou fiel ouvinte”
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