letra de sonho de agrestina - nem walter
ontem à noite eu me deitei
quando adormeci sonhei
e no sonho eu avistei
quando agrestina chegou
quando chegou se sentou
na beira da minha cama
do seu pesaroso drama
um pouco me revelou
no sonho ele disse -ssim
não tenha medo de mim
minhas carne levou fim
que a morte é uma só vez
estou aqui com vocês
de quem grande amigo sou
e quem me -ss-ssinou
um dia paga o que fez
disse com cara de choro
guarde meu chapéu de couro
de lembrança a zé de louro
jacaréu e manelzinho
e a compadre macazinho
diga que fazia pena
se ele visse a minha cena
eu me acabando sozinho
nessa hora eu me lembrava
de vocês com quem brincava
e dos aboios que eu cantava
nas vaquejadas que eu ia
porém gritar não podia
naquela triste aflição
vendo que meu coração
aquilo não merecia
o inimigo batia
e os outros com zombaria
e eu pobre não podia
daquilo me defender
vendo meu sangue descer
conheci que estava morto
e pra te dar um conforto
em sonho eu vim te dizer
disse: diga a expedito
que ele diga a manelzito
que o momento mais aflito
eu terminei de p-ssar
não pensei de eu me acabar
sem ter defesa de nada
resta somente a ossada
pra quem quiser visitar
pra o povo que vai e vem
na serra da russa tem
mancha de sangue também
que por lembrança eu deixei
e as lágrimas que eu derramei
por sinal da despedida
nos últimos termos da vida
no canto em que eu me acabei
ele disse vá depressa
cante essa toada e peça
já que ninguém se interessa
não sei o que é que tem
me ajudando você vem
dos ‘trabalho’ não se zangue
diga os homens que meu sangue
é brasileiro também
mas meu sangue está impune
que jesus do céu reúne
e a sorte um dia pune
que eu me confio nele
humilharam a vida d’ele
a uma dado cal faz
e eu sofri muito mais
humilhação do que ele
até meus olhos furaram
e depois que me mataram
aí meu corpo atiraram
em um abismo profundo
num lugar tão ‘nesse’ mundo
parecido com uma cova
que só urubu não prova
que ali faz parte do mundo
tudo quanto eu possuía
se acabou naquele dia
também a última agonia
p-ssei e estou descansado
fui grande amigo do gado
com quem pude divertir
e agora deus vou pedir
pra perdoar meus ‘pecado’
nessa hora eu me acordei
da cama e me levantei
olhei e só avistei
uma mulher que dormia
soprava uma brisa fria
mansa, calma, meiga e fina
sonhando com agrestina
eu fiz essa poesia
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