letra de o tesouro - mr.burnz
[verso 1]
os irmãos de medranhos rui, guanes e rostabal
eram em todo o reino das astúrias
os fidalgos mais famintos e remendados
e como tal achavam-se condenados a ficarem na penúria
nos paços de medranhos, onde o vento da serra levara
a vidraça e toda a telha
passavam eles as tardes de inverno
engelhados em pelotes de camelão
batendo as solas rotas ao pé da lareira já negra
onde por regra não havia lume nem fervia
a panela todavia nunca se ouvia queixume
e mesmo após um dia intenso de trabalho devoravam o pão negro apenas esfregado em alho
à tarde iam para a estrebaria aproveitar o calor
das três éguas que os aqueciam
era tanta a miséria que tornara-os esguios como polvos
mas tornara-os mais bravios do que lobos e…
numa manhã primaveril caçavam tortulhos
enquanto as éguas comiam relva de abril
depararam-se com um cofre guardado
por uma torre segura
com três chaves nas três fechaduras
no terror e esplendor da emoção ficaram lívidos como círios
mergulhando furiosamente as mãos em delírio
até as folhas dos olmos tremiam, seria este o fim do seu martírio?
[bridge]
quem tudo quer tudo perde
quem tudo quer tudo perde
ou seja
eu prefiro um inimigo que me acompanhe na cerveja
do que um falso amigo com champanhe na bandeja
[verso 2]
e então decidiram dividi-lo em 3 partes
e também dividiram as chaves
e pra não serem roubados um tinha que ir à vila
buscar mantimentos e sacos pra dividir a quantia
e guanes foi mas antes de partir
fechou o cofre à chave pró caso de algum o trair
ficam lá o rui e rostabal no pinhal
à espera que guanes volte com vinho e o material essencial
rui sussurrou como um besouro
dizia que guanes não merecia a sua parte do ouro
que ele era velhaco e não fazia sentido
pois se guanes tivesse achado o tesouro não o teria dividido
rostabal concordava achava que guanes gastava
em instantes tudo aquilo que ele apanhava
à frente e de repente o plano chega a bom porto
quando o mano grita ‘guanes deve ser morto!’
prepararam a emboscada
e quando guanes chegou rostabal atacou-o
e degolou-o com a espada
tirou-lhe a chave, do nada rui atacou rostabal
pela calada matou-o e ainda cantou uma serenata
de vitória a tão esperada glória depois da discórdia
os seus irmãos eram história
ele vê os irmãos no chão mas sente a ambição no coração
e esfrega as mãos de contente
ele era o dono do tesouro chegara a sua hora sonhava
com um trono já banhado a ouro
e com as chaves no cinto sacou os mantimentos
que guanes trouxera tava faminto
de instinto empreitou-se sozinho
e nunca lhe soubera tão bem aquele pitéu e aquele vinho
mas o céu era adivinho e à medida que escurecia
mais o rui comia e bebia cheio de alegria
mas então sentiu a língua dormente mãos a ficarem pesadas
visão turva e respiração ardente
já em pânico foi à fonte beber água
mas água parecia quente sentiu as pernas dormentes do nada
e nada podia acalmar a dor que ele sentia
era tanta a azia e a falta de ar
ia morrer era esse o seu destino pois guanes tinha-lhes envenenado a garrafa do vinho
[outro]
quem tudo quer tudo perde
quem tudo quer tudo perde
ou seja
eu prefiro um inimigo que me acompanhe na cerveja
do que um falso amigo com champanhe na bandeja
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