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letra de morro testemunho - mc rasmi

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sou morro testemunho
das medidas paliativas
sou moinho de vento
do amor às causas perdidas

sou o retrato emoldurado
imagem e a semelhança
de quem faria o que quero fazer
quem sente o que sinto, mesmo sem saber o porquê

fotografia 3×4
sou parecidíssimo com ela
no entanto, nessas fotos do passado
pergunto: quem eu era?

tomei meu remédio anti atraso
tirei as pedras do meu sapato
subo em ombros de gigantes
faço uma colcha de retalhos

abandonei minhas muletas
busquei novos amuletos
precursor em alguns trajetos
como tales de mileto

degustando a madrugada
um amante assíduo
enxergando em primeiro plano
aquilo que é conspícuo
sou morro testemunho
que serve para contestar
sou aquilo que o choque
da erosão se pôs a moldar

pessoas brilhantes ao meu redor
eu tão cheio de ficar a esmo
foda é falar de liberdade
estando preso em si mesmo

gosto de ver o dia nascer
sentir que em volta não há mais nada
e até que me saio bem
nas sombras que precedem a sua chegada

alinhamento de astros
nova saga que se inicia
sem condição de prometer
porque isso é uma profecia…

meus manos não reconheceram
meus familiares não compreenderam
que a vida que vai
é a mesma vida que vem

meus colegas não entenderam
alguns amigos não perceberam
real valor que o ritmo
e a poesia têm
sou morro testemunho
parte componente do todo
eterna transformação
em um eterno retorno

constatando o existir
entre observado e absorvido
não entendo o que alguns dizem
outros, me encantam os ouvidos

há um tempo atrás aprendi
lembro cada vez que componho
ninguém dará o mesmo valor
que você dá para seus sonhos

toda mentira será desmascarada
toda verdade será revelada
toda luta será recompensada
nossa voz nunca será calada

sou a biografia viva
um suspiro de alívio
chuva que perdura
na chegada de ventos alísios

vencendo o egoísmo
com dialeto e dialética
tentativa de encarar erros
como licenças poéticas
ser mais aquele que ouve
menos a boca que fala
menos o dedo que aponta
mais a palavra que salva

dispensei o barco de foucault
do alto vi partir a barca do inferno
com o passar das eras geológicas
nenhum sentimento é eterno

nada mais será como foi
essa é a tal da entropia
não consigo evitar a dromomania
fissura que não cicatriza

neguei as raízes do bairro
por não ter outra escolha
porque elas me sufocavam
me espreitavam na encolha

meus manos não reconheceram
meus familiares não compreenderam
que a vida que vai
é a mesma vida que vem

meus colegas não entenderam
alguns amigos não perceberam
real valor que o ritmo
e a poesia têm

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