letra de a consulta - lancelot (odc)
[intro: doutor & sr.tony]
doutor: bom dia, sr.tony. como está?
sr.tony: bom dia, sr.doutor. está tudo bem vai-se andando
doutor: sente-se aí, se faz favor
sr.tony: ta, pode ser aqui sr.doutor
doutor: então diga-me lá como tem passado
[verso 1: lancelot]
eu tenho passado bem sr.doutor
quer dizer eu sinto dores apesar de seguir a medicação que o senhor indicou
ómega 3 logo pela manhã em jejum, certo?
acontece é que às vezes me esqueço e primeiro tomo o pequeno almoço
e depois os comprimidos são tantos que eu fico zonzo
parecem berlindes gigantes a escorregarem me pelo esóf-go
e os antibióticos receio que me rebentem o estômago
mas o hematoma continua presente logo sou obrigado a tomá-los
nós…vamos ao que interessa
incomodam-me as palpitações que ainda sinto na cabeça
será falta de hidratação mas eu tenho usado os cremes
a máscara, as placas e a capsaicina na pele
sinto-me em combustão como a ponta de um fósforo
a noite desperto aflito depois de rever as agulhas nos sonhos, doutor
[diálogo]
doutor: sr.tony, vamos lá ver. então diz que alguns sintomas permanecem
sr.tony: sim, sim, sim, sim
doutor: poderá ser uma questão psicológica relacionada com alguma preocupação na sua vida. ou mesmo, alguma preocupação relacionada com a sua imagem que lhe está a causar o stress. e o stress, por sua vez, não contribui no melhoramento da sua condição. e se assim for, estamos a voltar à estaca zero
[verso 2: lancelot]
estaca zero não, não, não quero passar pelo mesmo
eu estou curado sr.doutor, não, já não me sinto enfermo
não, não já não me sinto enfermo
bem sereno aceito a vida conforme ela vem
o que eles me desejam, desejo de volta a multiplicar por cem
sei que não interessa saber mais o seu diagnóstico
entrega no fim quando eu não tiver mais nada para dizer
até lá falo pelos cotovelos se for preciso
agradeço esta consulta e por me ter recebido
receio não ser compreendido
às vezes eu sinto como se ‘tivesse o cérbero mergulhado
num ponche de absinto
viajo e tenho visões no escuro
flash de memória onde percorro os caminhos da glória
do passado e futuro pergunto-me:
será dos fumos que travei em bafos aleatórios?
não entendo esse ódio pelos meus fantasmas e demónios
ponho-me do lugar do próximo perdoo as ofensas de todos
mas como a alma não mente
peço que nenhum deles me olhe nos olhos
porque me encontro dividido em dois
eu tenho a paz e a morte a disputarem por mim
como se eu fosse uma medalha de ouro
o psicológico continua igual, nada a fazer
preocupo-me em demasia enquanto que os outros
eles querem lá saber
eu sinto-me em combustão como a ponta de um fósforo
em sonho revejo as agulhas a passearem pelo meu rosto , doutor
[diálogo]
doutor: então, já agora diga-me lá, o que é que você faz?
sr.tony: continuo a fazer raps
doutor: continua nos raps?
ahhh, é isso. então faça os seus raps, viva com alegria. seja feliz, sorria mais, sr.tony. olhe, tente não levar as coisas tão a sério
sr.tony: ta, obrigado, sr.doutor, obrigado
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