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letra de mãe ao cubo - kastiço

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[verso 1]
noventa e duas primaveras mais ficaram por viver
quantas vidas tu criaste quantas viste crescer
matriarca da família humildade a condizer
unias todos como as linhas que acabavas por coser
pelas minhas só tenho que agradecer
foram mil e uma histórias que ficaram por escrever
foram mil e uma voltas a terra pra ver nascer
uma pessoa como tu nunca mais devo conhecer
e o que devo prometo vou devolver
entre palavras e ensinamentos que consegui recolhеr
a vida é feita de momentos, еu recordo para viver
como recortes de jornal que guardo pra não me esquecer
coragem pelo que passaste não nascemos para sofrer
viste tempos de ditadura e a democracia a nascer
mãe solteira em tempos que mal se sabia escrever
é preciso entender que eram seis bocas para comer
a maior dor é ver um filho falecer
em tempo de tempestade acabou por acontecer
é uma ferida que não sara, mas eu vi-te a renascer
das cinzas que ficaram, brotaram flores a condizer
viver debaixo do mesmo teto, como areia no deserto
fechar os olhos e sentir que ainda te tenho tão perto
dava tudo como certo faltou-me a tinta na caneta
escrevi pra mandar um beijo da tua bisneta
[refrão]
quero agradecer às mães a minha vida
mãe da minha mãe, minha mãe, mãe da minha filha
quero agradecer às mães a minha vida
mãe da minha mãe, minha mãe, mãe da minha filha
quero agradecer às mães a minha vida
mãe da minha mãe, minha mãe, mãe da minha filha
quero agradecer às mães a minha vida
mãe da minha mãe, minha mãe, mãe da minha filha

[verso 2]
quando digo mãe sinto-me privilegiado
por ter uma com um m grande sempre a meu lado
por me ter parido, sofrido, por me ter criado
por ter sorrido, chorado e alimentado
educado quando o contexto era complicado
por ter abdicado de viver pra viver a meu lado
por ter sorrido quando os olhos queriam chorar
por ter esquecido quando o coração queria lembrar
ter resistido quando as mãos queriam largar
alimentar uma criança que só queria sonhar
deste o corpo aos estilhaços que me queriam ferir
para no final do dia me puderes ver a sorrir
passámos tempos de intempéries que não me queria lembrar
mas tu mereces que haja quem tenha histórias para contar
bravura, na noite escura, com o pai a precisar
estiveste firme quando o barco estava a afundar
para quem está de fora é sempre fácil falar
mas quando bate na rocha a tocha tende a apagar
só ficam os corajosos entre fogos e compósitos
entre lobos e necróf-gos que te querem devorar
só verdadeiros ficam para recordar
e os teus feitos estão gravados, não dá para apagar
desde a nascença a vida tem a tendência de sufocar
mas dei-lhe a volta e fiz do cordão um colar
[refrão]
quero agradecer às mães a minha vida
mãe da minha mãe, minha mãe, mãe da minha filha
quero agradecer às mães a minha vida
mãe da minha mãe, minha mãe, mãe da minha filha
quero agradecer às mães a minha vida
mãe da minha mãe, minha mãe, mãe da minha filha
quero agradecer às mães a minha vida
mãe da minha mãe, minha mãe, mãe da minha filha

[verso 3]
obrigado por teres aparecido na minha vida
carregado a catarina, nove meses na barriga
não podia ter arranjado melhor mãe para a minha filha
está estampado no sorriso quando te vê o olhar brilha
construímos um castelo a que chamo família
que defendemos juntos e vemos crescer a cada dia
caminho atribulado, o vento não soprou a favor
foi agridoce, vivemos entre o amor e terror
pais de primeira viagem, numa passagem pandémica
sem meios, receios bloqueios sem ética
violência obstétrica, sobrevivência épica
viajaste noutro mundo, voltaste de forma poética
foste tu que a aqueceste naquela copa gelada
onde ficaram só as duas assistência era negada
tocavas à campainha de madrugada e não chegava
ela chorava, mamava o pouco leite que a mama dava
á porta a mala não entrava, em chamada imagem encrava
na boca chucha faltava, tetina e compressa usava
roupa dada tava larga, agarrada a mãe já não larga
no nariz ficou a marca e no coração uma farpa
ansiedade pra chegada, ansiedade pra chamada
senti tanto a vossa falta, até que receberam alta
são notas na minha pauta, se tocam coração salta
escorrem-me lágrimas de alma que me acalma que te acalma
que ajuda a esquecer o trauma, e a sentir doutra maneira
da primeira muda, ao primeiro banho na banheira
dos mimos á brincadeira, da última noite inteira, de sono
nasceste para ser a melhor mãe do mundo
[refrão]
quero agradecer às mães a minha vida
mãe da minha mãe, minha mãe, mãe da minha filha
quero agradecer às mães a minha vida
mãe da minha mãe, minha mãe, mãe da minha filha
quero agradecer às mães a minha vida
mãe da minha mãe, minha mãe, mãe da minha filha
quero agradecer às mães a minha vida
mãe da minha mãe, minha mãe, mãe da minha filha

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