letra de deitado é infinito - kap
[1º verso]
existe um frio que se chega com o sol
e sinto que por senti-lo giro como um gir-ssol
à procura duma luz numa constante rotação
por haver quem me seduz mas não quem me dê a mão
e giro, mais ou menos em vão, sem um motivo
com o aumento de noites em que eu deixo de sentir-me
o frio contraria isso e eu não o contrario
por viver contrariado, ao contrário do que eu tenho dito
hoje é inverno e o sol raia no parque
e pelas onze da manhã vou ao cigarro do debate
a ver se alguma ideia bate e faz a folha reagir
enquanto o vento arrasta as folhas que o outono fez cair
e eu fico por aqui, e já fragmentado
junto os pedaços de mim e que ninguém quer colar
faço disso um desafio mas que ninguém quer jogar
por eu ser um enigma que ainda não está solucionado
então repete o enunciado, é normal
não perceberes o que eu digo e o que eu sou por veres mal
a questão está no sentir e ultrap-ssa o visual
a neve não faz o inverno mas calor faz o natal
agora sinto inquietação como o outro zé sentia
o porquê disto é que eu não percebo ainda
é que há manhãs de sol mas também há noites frias
e por enquanto só tremo quando o meu ontem me liga, até logo
[refrão]
é inverno e tenho frio (e todos temos)
sou incerto até comigo (e todos vemos)
eu vejo bem e sei de cada detalhe
mas se p-ssares por aqui arranja-me um agasalho
é inverno e tenho frio (e todos temos)
sou incerto até comigo (e todos vemos)
eu vejo bem e sei de cada detalhe
tu diz-me se tiveres frio, eu dou-te o meu agasalho
[gervásio]
e dizia o nosso pessoa, “vale sempre a pena quando a alma não é pequena”
[2º verso]
existe um frio que se chega cinzento
e também há um filtro azul que dá ao jazz o sentimento
(de) mais vozes eu não preciso se não forem ao ouvido
se eu já me sinto perdido entre a verdade e o que imagino
e aquilo que poderia ser
há pouco que me faz tremer, há muito que o quer fazer, eu estou a ver
a forma como ficas frágil se te deixas aquecer
e as novas formas que ganhas que eu quero conhecer em ti
queres-me cobrir? queres ser o meu cobertor?
é que o céu está encoberto e as nuvens não me dão calor
eu estava à espera de outros dias, favoráveis para ir à luta
e é que há pouco que se possa fazer num dia de chuva…
são só desculpas esfarrapadas como a manta que tenho
e ainda -ssim eu mantenho esse contacto
porque o que hoje cai em mim amanhã sai-me da boca
mas para eu sair de casa vou querer um agasalho
então preciso de algo que me aqueça de noite
e as soluções que tenho teimam em deixar-me num oito
sei que deitado é infinito mas isso não é o ponto de vista
que eu tenho em vista quando escrevo três pontos
se tu nem sabes o que é bossa não me aqueces e pr-nto
pouco adianta nem que o samba que danças me deixe louco
“deitado é infinito” mas essa não é premissa para a vida
que, à deriva, eu resumo a três pontos
[refrão] (3x)
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