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letra de 19 de julho - kaines

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[refrão]

o partir o chegar
o receio de ver
uma luz cintilar
depois desvanecer
dormir sem acordar
sem ninguém para saber
o ir e não voltar
é viver ou morrer

[verso 1]

trovoada, chuva miúda vento nesta madrugada
algures naquela estrada no local na hora errada
perco controlo de uma viatura que acaba despistada
tive os flashes de uma morte precocemente alimentada
naquele carro encarcerado libertaram caixa de pandora
ensanguentado berrando pela minha progenitora
sinto o anjo da morte a aproximar-se de mim
mas algo me disse: “a tua vida não vai acabar -ssim”
fui buscar todas as forças para que o mundo não deixa-se
e que para fora daquele inferno o meu corpo se arrasta-se
e esperar que aquela hora alguma alma lá p-ssa-se
sob a forma de luzes azuis a ajuda lá cheg-sse
uma maca, ambulância ,correia cervical
nunca queiras ver as luzes do hospital na horizontal
e se o destino existe uma coisa podes crer
as tuas pernas vão levar-te aonde hás de morrer

[refrão]

o partir o chegar
o receio de ver
uma luz cintilar
depois desvanecer
dormir sem acordar
sem ninguém para saber
o ir e não voltar
é viver ou morrer

[verso 2]

urgências, alerta traumatismos hemorragia
raio-x bloco operatório e cirurgia
seria ali que o meu futuro se decidiria
a dor de me perder, a minha mãe não aguentaria
acordo numa cama nos cuidados intensivos
luzes e ruídos de máquinas que nos mantêm vivos
morfina, a minha droga de eleição
rolpi vacaína injetada na hiperbárica, infecção
a hora de decisão acaba por chegar
confrontado com o facto de morrer ou amputar
a palavra que de certo ninguém quer escutar
foram 15 transfusões só para me segurar
fui às portas da morte e vi a escuridão que ela revela
mas bati com a porta e fugi pela janela
foi como subir ao céu levar um tiro numa asa
para mandar uma mensagem “amor não cheguei a casa”

[refrão]

o partir o chegar
o receio de ver
uma luz cintilar
depois desvanecer
dormir sem acordar
sem ninguém para saber
o ir e não voltar
é viver ou morrer

[verso 3]

consciência volta, transferência ortopedia
mais um mês internado depois alta e fisioterapia
depositando esperanças na maravilha da tecnologia
ao subst-tuir o membro que anteriormente existia
a hipótese de uma prótese parecia muito cor-de-rosa
porque quando mais funcional, mais dispendiosa
descubro que o meu acidente teve origem duvidosa
e os airbags não tinham disparado, mão criminosa!
um carro sabotado demoníaco veículo
saio à rua e sei que por aí algures anda um -ss-ssino
à solta, esta revolta que carrego
na volta é reflectida nas palavras que em emprego
essa almofada da consciência, deixa-te dormir?
ou é pesada demais para puderes conseguir?
deixai-me descansar o quê que virá a seguir?
é que o meu anjo da guarda não tem tido mãos a medir

[refrão]

o partir o chegar
o receio de ver
uma luz cintilar
depois desvanecer
dormir sem acordar
sem ninguém para saber
o ir e não voltar
é viver ou morrer

[refrão]

o partir o chegar
o receio de ver
uma luz cintilar
depois desvanecer
dormir sem acordar
sem ninguém para saber
o ir e não voltar
é viver ou morrer

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