letra de a morte nunca existiu - josé mário branco
tudo o que for vivente tem
uma queixa que o percorre
e quando um dia a vida morre
a morte morre também
essa já não mata ninguém
onde nasceu se sumiu
p’ra esse corpo serviu
ali fez as contas do povo
não vai de um p’ra outro corpo
porque a morte nunca existiu
a morte não sai para a rua, nem anda de terra em terra
e que anda um dia a vida degenera a morte
cada um tem na sua
essa já não continua
onde nasceu foi acabada
pois foi ser enterrada
com o corpo debaixo do chão
mesmo nessa ocasião
foi pela vida gerada
onde é que essa morte está, onde tem no acampamento
p’ra matar milhares ao mesmo tempo
uns no estrangeiro, outros cá
essa morte não haverá
p’ra que faça tanto corte
ainda mesmo que seja forte
e haja isso, eu não acredito
estragou-se o sangue
perdeu o espírito
a vida p-ssou à morte
como é que podia ser
uma morte só ter tanta substância
do mundo tão grande distância
p’ra tanto vi ver-te morrer
cada um tem a sua ter
e pela vida que é fundada
aquela que anda de estrada em estrada
ninguém tenha esse abismo
quando se pára o maquinismo
é que fica a morte formada
quando se pára o maquinismo
é que fica a morte formada
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