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letra de terra - joe sujera, thiago ticana

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debaixo do pé, a terra vira pó
sem espaço pra minha fé, to lotado de nó
o amargo do café, com o azedo do gogó
c’est la vie e ela quer me levar daqui só

então abra a cortina pra nós, nossa vez, quero voz
quero reis aos meus pés, quero mais, quero pós
em saraus, quero mais que refrões
quero mantras canções que preencham cabeças, pulmões

se o mundo acabar hoje, não me chame.
to pondo demônios no papel antes das aulas de origami
verbo flui como mel pois na cabeça tenho enxame
confundiram com poesia meus cadernos de auto exame

sou só energia, sou sopro de norte a sul
me esvazio e não quebro, sabedoria do bambu
se o pé no chão for raiz, elevação é deja vu
nasci escuridão, música foi abajur

refrão:

cheiro da terra mudou
eu deixo a chuva cantar
pego a terra pela mão
e limpo os pés pra entrar

caixão de cimento pro ambiente.
mundo doente. é foda nascer s-m-nte.
alcance de raiz não se compara ao de wifi
promessas de florestas em fábricas de bonsai

cultivar ideia, é lapidar a joia
convence a grama que ela nasceu pra ser sequóia
eu sou esboço desde os vinte um de idade
me enterre até o pescoço sou bom de profundidade

aqui to perto do centro / me perco, universo é dentro.
me fecho e deserto é meu templo / silêncio é santo se eu for barulhento.
não quero fogo de palha / quero viver de escolhas
ter espinhos pra furar bolhas / quero alimentar minhas folhas

quero forças pra pular, pra sentir falta do chão
quero me desligar pra entender conexão

meu passo descalço é discreto no mato
não mato um inseto não movo um graveto
meu rastro é lembrete, uma nota um soneto
que vive no ato de ser só trajeto

refrão:
cheiro da terra mudou
eu deixo a chuva cantar
pego a terra pela mão
e limpo os pés pra entrar

- joe sujera thiago ticana

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