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letra de preso no processo - joão pestana

[verso 1]
fiquei preso no processo, complexo
de criar algo sem nexo, tornei-me num abcesso
cuida de ti que se foda o resto
mas nem para criar presto
olho ao espelho e só detesto
o ar que respiro, infesto
queimei o manifesto
quero partir o tanque, atesto
mas até o destino é incerto
sempre fui um livro aberto
mas com as traças por perto
a comer as páginas e o pó
areia do deserto
respira, nеm tudo é escuro
o ar é puro
há um futuro enquanto houver um furo
um cais sеguro
licor no copo e muito fumo
os cornos no muro
e o pensar suprasumo, haja um rumo
nem que seja só um macabro cenário
canta mais um canário e o pai deixa o puto ao infantário
ardor diário, de um necessário
um mundo primário, no qual quem alterna é otário
[skit]

[verso 2]
outra vez preso no processo
ando descalço numa estrada sem regresso, confesso
parte de mim quer o sucesso
mas outra parte quer ser os estilhaços do espelho sem reflexo
e já nem meço as palavras sem medida
caio e tropeço sem atrasos na vida
minha amiga a relação mais suicida
contida numa bala perdida
ou numa noite excessiva
e há quem diga
a ferida não cura realmente
cicatriz é alma prudente, pois quem sente
nem estou desmente com a ferida aberta
tirar da frente as barreiras à descoberta, incerta
qual a parada paragem
estou no oásis a considerar meras dunas miragem
está frio e nem há ac nem souf-gem
vou dizer algumas
mas parti a garrafa antes de lá pôr a mensagem

[skit]

- joao pestana

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