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letra de noturno - joão pestana

[verso]
conforto é no negrume onde escasseia o brilho
absorto no retorno a mendigar sarilho
se ela é mãe de todos há de se orgulhar do filho
mantenho a tradição e deslizo
a praça é toda minha eu sou dono disto
confessas às paredes ,elas falam comigo
mantenho os segredos pouco digo
e se for o caso disso, só o vazio ouve se baixo repito, existo
a cada viela deslavada, mal iluminada num domingo santo
três da madrugada, só o poeta e uma estrada
chuva grossa desliza nos telhados de amianto
e já se passou tanto
muito disso remete à fonte caos para lá da pontе
só com a testemunha branca circular
mais horas para que tе conte
toda esta peripécia antes desta noite acabar
tive para lá ficar, mas não há que evitar
o regresso é circular, o dia tem de findar para a noite reinar
o dia tem de findar para a noite reinar
nunca será para ficar
senão puder eternizar serei a estrela

todos somos sombras, e se crês no permanente és iludido
só tens aparecido até a luz mudar de sítio
só tens brilhado porque no escuro o reflexo é nítido
nunca dês por garantido que não funde ou apaga a lamparina
se a noite é escura prepara a vista
se não és coruja, vê que animal te guia
não há alternativa senão voltar à mãe que cria
noite que não finda, batiza, na sua acalmia
pensadores na correria, charros na batida
de mais uma avenida, água santa abençoa horas tardias

- joao pestana

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