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letra de banquete - joão pestana

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[verso 1: pestana]
todos os dias me sujo, como um portão arrombado
também eu desconjunturo
em memórias inflamadas e nem água da mais pura
me devolve o cheiro a terra, quem sou eu
se não engenho e tenho no peito uma cratera, submersa
neste lugar onde a fome não se mata
o jantar não sabe a nada
e eu já vi isto em algum lado
virado do avesso fuma um cigarro
o pendurado, nos seus olhos uma frecha
onde a loucura sempre escoa
punhados de jóias sem valor fazem festim pela noite dentro
ganham ritmo andamento
olha-me aquele desgraçado rasga a capa pela metade
e se é que morro peço apenas que me vistam com vontade
sem remendos sem reparos, só restante da mortalha
e eu tocada pelo gesto de entrar e vê-lo repartir a última migalha

[refrão]
sou vestida de oferenda seda escura cor de breu
enquanto o rito flui malvado
se o jantar não sabe a nada é que o jantar sou mesmo eu
sou vestida de oferenda seda escura cor de breu
enquanto o rito flui malvado
se o jantar não sabe a nada é que o jantar sou mesmo eu
[verso 2: pestana]
que poesias sedutores ouves tu desse lado
oh cama feita entre escombros
crimes por pagar, o mal e os outros semelhantes
caem e esfolam os joelhos, escavam marcas no asfalto
há iluminação tão bela quanto a luz do próprio quarto
tão singela que não cega nem desdenha a mão do próprio criador
chora assim que se apresenta como é bela a própria dor
espreme e deixa assim de lado
um suspiro entalado entre o punho e a parede
entre o cunho e toda a gente, trás semblantes a seu gosto
e seu carecer sem paz no rosto, já vai cansado

[refrão]
sou vestida de oferenda seda escura cor de breu
enquanto o rito flui malvado
se o jantar não sabe a nada é que o jantar sou mesmo eu
sou vestida de oferenda seda escura cor de breu
enquanto o rito flui malvado
se o jantar não sabe a nada é que o jantar sou mesmo eu

[verso 3: rapper não identificada]
e eu sentado aqui, mas vou sem fome nenhuma
mesa de mogno que é tão grande para esta sala
quem são as pessoas que se vestiram de gala
e partilharam pão e sal, mesmo que não saiba a nada
tapados pela sombra que nem eu próprio conheço
rosto enfaixado, agrafado ao desapego, longe da visão
apenas vejo estender a mão calejada
que afasta a minha cara da travessa, até parecia ir satisfeito
é sempre fácil quando repousas na colher
és comido e não lutas para comer
servido para ser sorvido num ápice
e as conversas pouco claras de análise, de onde vem a luz?
será que vem de ti cometa e tu satélite que refracte a cor cinzenta
há de ser prisma avariado ou bom produto extraviado
prova-te a ti próprio e logo diz-me a que é que sabe
[refrão]
sou vestida de oferenda seda escura cor de breu
enquanto o rito flui malvado
se o jantar não sabe a nada é que o jantar sou mesmo eu
sou vestida de oferenda seda escura cor de breu
enquanto o rito flui malvado
se o jantar não sabe a nada é que o jantar sou mesmo eu

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