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letra de sufoco paradoxos - ícaro sdr

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verso
miúda vê como temos estado
mar alto e tempestade
ainda nem entrei no barco
puxo um bafo mano e falei com o diabo
alma pela caneta
claro que aceitei o pacto
mas fazias parte dela isso é um facto
em que nem pensei um bocado
enverdei pelo pecado
que troquei pelo teu braço
qualquer um que me aqueça estou gelado
à espera que a vida aconteça no meu quarto
rijo mas sedado
finjo que finjo estar quebrado
perdido neste espaço
que escavamos entre nós
já lá vai mais de um ano
sinto que te perdi entre sóis
rijo mas sedado
finjo que finjo estar quebrado
perdido neste espaço
que vai desde a minha insónia ao teu abraço
se eras suporte
é normal
que esteja
destruturado
e se foste o meu norte
o sul é onde tenho estado
estranho estado
entre a espada e o gargalo
perdido na minha farsa
sina amarga
eu a cantar de alma
e eles a cantar de galo
não sei ensinar nada
nem vim dar aulas
todos para o intervalo
intercalo
fumo e vinho
até sentir ganda estalo
o que eu sinto
move os céus
é vendaval
a cuspir
em dois mil e picos
c’alma dos noventa e tal
com o meu ódio humano
e a minha calma animal
verso
que se foda à graça de deus
tou na praça cos meus
e na cama co diabo
vens de frente contra a vida
só na escrita abordo a ferida
já só sei olhar do lado
já só sei nadar em lodo
e mesmo assim tenho encalhado
trabalho das nove ás cinco
e uma família
engodo do caralho
todos amigos até vermos
o que saiu no baralho
quem se ergue?
sangue verte
do meu peito aberto
para cuspir em contra tempo
espaço tem de bater
sempre certo
vê de perto a falta de asas
de quem anda sempre cego
quem se ergue?
sangue ferve
e quer voar
no fundo meu peito enterro
fumo, mágoa e falta de ar
a criança nasceu
só a falta amar
verso
sufoco paradoxos
se os acordo
vim para manter paz a bordo
brisa se oiço o vento
vou mas já não volto mais
não posso
não sei
não quero
se relativizo tudo
como é que eu vou ser sincero?
vou e já não volto
que eu sou ícaro não homero
odisseia acaba no frio quente do caderno
cá estou e nem começo
à deriva e nem coopero
coração estragado que anda a mendigar afecto
quem não vê com o peito a meu ver é cego
que tenha tempo nego
porque a mente desencaixa como lego
desencaixa como ego num papel
a construir carreira com um prego e um martelo
carrego a custo este fel
com o fumo a escorrer da pele
não repele nem repara mágoa
visão turva mas não falta nada
dá-me tempo e asas

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