letra de força motriz - hadessa
[hadessa]
que cara triste é essa que trazes, camarada?
a luta é dura, a noite é escura e longa é a estrada
não me sobra tempo nem dinheiro, estou cansada
mas aos olhos do mundo parece que não fiz nada
que cara triste é essa que trazes, companheira
também é teu o braço forte que empunha a bandeira
estive vergada sobre o prelo a semana inteira
passa fome o povo e mataram a ceifeira
menina
maquina
em surdina
clandestina
vai à missa
submissa
mas quando o sangue fervе
ela luta por justiça
saiu de casa, madrugada, de bicicleta
o sol ainda dеmora mas já estás irrequieta
não invejas a sorte da irmã -n-lfabeta
rezas baixo ao colocar a marca secreta
[maria antónia mendes]
quando a morte me levar
irei de cabeça erguida
não tenho medo da morte
tanto como tenho amor à vida
quando me quiser
leva uma alma pura
leva um corpo sem vergonha
peito aberto cheio de ternura
não sou feita de pedra
mas sou dura de roer
sou fácil de apanhar
mas difícil de esquecer
sou uma mulher
que vai dentro do caixão
sou a voz da minha gente
que se ergue em cada canção
[hadessa]
fizeste abril e ainda há portas que tu tens de abrir
o homem novo não nasceu vais ter de o parir
empenha-te para a tua filha não ser como a mãe
dá um salto maior que isto com filhos fica aquém
mulher vais à luta, és força motriz
o mundo não anda p’rá frente sem ti
és mais que uma cara que il-stra o cartaz
és quem trata de tudo, quem pensa, quem faz
certeza
firmeza
dureza
limpeza
torrente
de sangue quente
e se és diferente
empurra a barriga e vai p’rá frente
só vais ser igual na sociedade sem classes
mas p’ra ti, mulher, já sabes que são mais os impasses
há que pôr mãos à obra, palavras leva-as o vento
mulher tu corre para chegares ao fim da história ao mesmo tempo
[maria antónia mendes]
quando a morte me levar
irei de cabeça erguida
não tenho medo da morte
tanto como tenho amor à vida
quando me quiser
leva uma alma pura
leva um corpo sem vergonha
peito aberto cheio de ternura
[maria antónia mendes & hadessa]
não sou feita de pedra
mas sou dura de roer
sou fácil de apanhar
mas difícil de esquecer
sou uma mulher
que vai dentro do caixão
sou a voz da minha gente
que se ergue em cada canção
[hadessa]
que cara triste é essa que trazes, camarada?
aos olhos do mundo estive só em casa fechada
memória de cem anos teima em não ser apagada
de pé, que a nossa luta ainda não está acabada
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