letra de realidade encenada - dekor
sou puxado para o real quando quero sonhar alto
a levitar sem dar o salto
anestesiado em sentidos sem receios
o fim é importante mas tens de olhar a meios
a beleza ‘tá no caminho, a meta é um destino
e é o percurso que o faz tão mágico e genuíno
memórias não me -ssombram, as barreiras tombam
vivo a minha vida, não de histórias que me contam
apaixonado por séries, realidades paralelas
o mágico, o fantástico, poeta sonhador nelas
numa peça de teatro (sou) figurante sem papel
narrador sem guião pinta a cinza e sem pincel
como um puro sem o l
ou infiel com a amante no motel
piratas sem hidromel, regimento sem tenente e sem coronel
tens de repor o equilíbrio para andar neste carrossel
‘tá a bala no tambor na roleta enferrujada
sem papel não tenho vidas infinitas encenadas
nem corretor para recompor estas palavras
condutor de toda a dor de uma geração bizarra
a emoção é guardada a expressão é carregada
és posto entre a espada e uma parede afiada
palavra como uma arma disparada pra magoar
destrutiva pr’ó meu íntimo que teima em não sossegar
eu preciso de esvaziar, deixar-me ir
guiado pela brisa, mãe hoje eu vou partir
e conhecer cada campo semântico de pensamento
desapegar-me de bens pelos quais não me alimento
é vital para o cérebro repleto de marés e ventos
planícies e montanhas rodeado de espaços verdes
distanciar-me deste sufoco deste caos que deixa louco
qualquer um que ousar seguir um sonho
não me oponho não consigo tar ferido, formatado e desprovido
arriscar sem medo do desconhecido
sinto-me um no meio de tantos a remar contra tantos
no meio de conversas pessoas desinteressantes
não preciso de um incentivo não sentido
espalhar palavras do que não pratico isso não sigo
nem consigo tar ativo, preocupado c’o vizinho
a viver o que não vivo só para não me sentir sozinho
numa obra dum poeta, a caneta com tinta
por mais que apagada permanece infinita
jamais escravizada mesmo quando sentes a faca
e quem tá mais próximo é sempre quem mais te saca
a tranca tá na porta, a peça é de revolta
palco desmontado a cultura tá morta
pela pátria a lutar sem canhões para disparar
nação valente e imortal sobre a terra e sobre o mar
a afundar …
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