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letra de cabeça a prémio - deau

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[verso 1]
assino o contrato, sem trato contrito
mas quem conheça bem o retrato
sabe que o que trago é restrito
mostro a nota ao maestro
e dou um trago do líquido
o hábito torna atrativo
tudo o que antes tinha um efeito de atrito
ah!
o cúmulo da existência no fim de um copo de bagaço
acabo frustrado sempre que castro o estro de outro estrato
e o que à superfície disfarço é o primeiro passo
aos poucos vai-se entranhando no que está por baixo
e dá-se a tratantada
outro atentado ao mastro da embarcação encalhada
dizem que mestre que se preze vai ao fundo com ela
e é triste quando a gente percebe
que nem sequer serve para essa merda
tem um barco dentro dessa garrafa
eu bebo para esquecer o que ela embala
olha por mim, meu anjo da guarda
se for este o meu caminho
ainda fico estendido no meio da estrada
e meto os dedos na boca para tirar o que eu tenho dentro
mas não consigo
meto os dedos na boca para tirar o que eu tenho dentro
preciso de vomitar a náusea
de terra à vista na gávea
não acendas o farol amor
se for por minha causa
prefiro que esteja escuro quando
chegar a casa
venho com alma esfarrapada
embrulhada na melhor indumentária
e catilinária a esta hora, nah!
é, eu vou ter que atinar mas não vai ser já
fé, que um dia vai melhorar
mas isso que agora pedes vai ter que esperar
e se tu não estás para isso porque é que não segues?
dizem para viver dos vivos
não dos fantasmas
por favor não abras livros de histórias passadas
não preciso que tu me lembres do que eu fui
quando tudo o que eu faço para me esquecer
de quem sou dói-me muito
[bridge]
e cerro os dentes
para tu não saberes
o quanto mata o que eu carrego
e cerro os dentes
para tu não saberes
o quanto mata o que eu carrego

[verso 2]
segura-me que eu perdi o equilíbrio
porque é que a porta do teu armário está aberta
e tem tudo vazio?
preciso de água
que post-it é este na porta do frigorífico?
tem a tua letra e diz: “olha por ti e sê feliz”
patife! patife!
não me acredito, levaste o nosso cão contigo
onde é que está o meu telemóvel?
acho que o perdi, deve ter caído
bebi para celebrar a primeira vez na vida
só que não fazia sentido não ter a tua companhia
então vim o mais rápido que podia
ansioso por dar-te a notícia
e dizer-te que nos saiu a lotaria
e que daqui para a frente
acabou-se o estado ébrio
mas a cobiça deixou-me a cabeça a prémio
e descerro o dentes
só que desta vez
aquilo que eu carrego mata mesmo
descerro os dentes
só que desta vez
aquilo que eu carrego mata me…

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