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letra de os índios da meia-praia - cristina branco

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aldeia da meia-praia
ali mesmo ao pé de lagos
vou fazer-te uma cantiga
da melhor que sei e faço

de monte-gordo vieram
alguns por seu próprio pé
um chegou de bicicleta
outro foi de marcha à ré

quando os teus olhos tropeçam
no vôo duma gaivota
em vez de peixe vê peças
de ouro caindo na lota

quem aqui vier morar
não traga mesa nem cama
com sete palmos de terra
se constrói uma cabana

tu trabalhas todo o ano
na lota deixam-te mudo
chupam-te até ao tutano
levam-te o couro cabeludo

quem dera que a gente tenha
de agostinho a valentia
para alimentar a sanha
de esganar a burguesia

adeus disse a monte-gordo
(nada o prende ao mal p-ssado)
mas nada o prende ao presente
se só ele é o enganado

oito mil horas contadas
laboraram a preceito
até que veio o primeiro
doc-mento autenticado

eram mulheres e crianças
cada um com seu tijolo
“isto aqui era uma orquestra”
quem diz o contrário é tolo

e se a má língua não cessa
eu daqui vivo não saia
pois nada apaga a n0breza
dos índios da meia-praia

foi sempre a tua figura
tubarão de mil aparas
deixas tudo à dependura
quando na presa reparas

das eleições acabadas
do resultado previsto
saiu o que tendes visto
muitas obras embargadas

mas não por vontade própria
porque a luta continua
pois é dele a sua história
e o povo saiu à rua

mandadores de alta finança
fazem tudo andar pra trás
dizem que o mundo só anda
tendo à frente um capataz

foram mulheres e crianças
cada um com seu tijolo
“isto aqui era uma orquestra”
quem diz o contrário é tolo

e toca de papelada
no vaivém dos ministérios
mas não de fugir aos berros
inda a banda vai na estrada

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