letra de empeçando a lida! - césar oliveira
frente cavalo!
o mouro bufa, troca orelhas desconfiado
levo o buçal, p-sso o cabresto no pescoço
choveu à noite, é madrugada, mal clareia
já na mangueira a cavalhada que é um colosso
parece aluada, não forma, não cabresteia
morde, coiceia, corre em volta num retoço
dou mais um p-sso, falo baixo em tom amigo
e o potro arranca enfiando a cara no buçal
firmo o fiador, p-sso a mão por todo o lombo
e volto ao tranco me atolando no barral
junto ao garrão espora grande abrindo rombo
me enverga o rastro replantando esse ritual
chego ao galpão, agarro as garras desp-cito
montão de trastes que se fez meu ganha-pão
quando me agacho vem pra boca o barbicacho
e alma xucra lambe o sal do coração
o potro mouro, por caborteiro de baixo
leva um abraço da maneia mão-a-mão
depois que encilho, puxo da marca coqueiro
bato na espora, limpo a bota e raspo a sola
quem é ginete tem um nome pra zelar
pois sobre o pasto faz do basto sua escola
e quando ata o bocal faz quatro galhos na cola
bem do meu jeito a preceito me enforquilho
de lombo duro o mouro avança e me convida
banco na rédea, ergo o braço e falo manso
ora cavalo, deixa disso e não te olvida
o dia é grande, se eu quiser não tem descanso
“bamo arreglar” que é bom pra nós, melhor pra lida
ah! como é lindo dois viventes que se entendem
e se respeitam cada um pelo que é
irmãos de luta, sempre um carrega o outro
pois com certeza um campeiro quando a pé
dentro do peito traz escramuçando um potro
bandeira pampa, liberdade, herança e fé!
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