letra de no desdobrar das auroras - césar oliveira e rogério melo
hoje o sol nasceu mais cedo
pra o índio da recolhida
que trouxe mala extendida
junto a um primeiro clarão
faz parte da obrigação
e o cuera que não se entrega
tenteando grito de pega
já vem de buçal na mão.
sou cria do recoluta
sou da costa do banhado
por isso é do meu agrado
cortar o rastro da sorte
ir de encontro ao vento norte
quebrar meu chapéu na nuca
pois a vida me cutuca
pra ser parceiro da morte.
dá gosto quando a tropilha
sente o guiso e vira à frente
florindo os olhos da gente
que já nasce pros arreios
e crescem enfrenando ânseios,
no desdobrar das auroras
quando as vozes das esporas
fazem tantos garganteios
fazem tantos garganteios.
meu mundo é um galpão de estância
meu pingo é um flete de guerra
que pisa firme na terra
quando venho armando o laço,
meu destino eu mesmo faço
e ao “santo” padre eu entrego
sei que algum dia eu sossego
mas não vai ser por frac-sso.
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