letra de líquida - capicua
[verso 1]
eu uno e separo todas as margens do mundo
inundo tudo, mergulho fundo
e quando me encolho junto mundos afastados
empurro cascos de paquetes e barcos de escravos
eu finto as redes do arrasto
porque p-sso nos buracos e evaporo no espaço
eu é que te lavo enquanto me sujas
até me fazerem espuma
e desabar de nuvem em chuva
baptizo cristãos, engulo corpos na morte
lavo a sua carne e dou as cinzas à sorte
sou forte, faço mover os moinhos
e no meu umbigo moram monstros marinhos
sou de todos e -ssumo qualquer forma
sem cor, sem sabor, inodora
[refrão]
sou líquida, e nasci para ser livre
não há vidro que me prive, nem o céu é o limite
sou líquida, sou a seiva do teu corpo
severa em maremoto, serena numa gota
sou líquida, e nasci para ser livre
não há vidro que me prive, nem o céu é o limite
sou líquida, sou a seiva do teu corpo
severa em maremoto, serena numa gota
líquida…
[verso 2]
dou de beber à terra, dou vida, dou pesca, dou rega
e por mim haverá guerra
se me quiserem presa, se me fizerem esc-ssa
se o meu corpo não chega para a vossa festança
serei uma ameaça, darei luta
enquanto for engarrafada, vendida, poluta
pela puta da indústria que me suja
e o deserto, tão perto, tão certo, tão vasto
a obra-prima do homem civilizado
ao pirata, à criada, ao diplomata
com a mesma força, e a mesma faca
[refrão]
sou líquida, e nasci para ser livre
não há vidro que me prive, nem o céu é o limite
sou líquida, sou a seiva do teu corpo
severa em maremoto, serena numa gota
sou líquida, e nasci para ser livre
não há vidro que me prive, nem o céu é o limite
sou líquida, sou a seiva do teu corpo
severa em maremoto, serena numa gota
líquida…
[verso 3]
azul do planeta azul, dá o sal e a pimenta
o sul é o cabo da tormenta
e na barca do inferno bebo um shot de água benta
só porque a sede é ciumenta
e quero matar mais do que a fome e a doença
azul do planeta azul, dá açúcar e canela
o sul é o fundo da panela
e na caravela bebo um gole de aguardente
só pra que a gente não se lembre
que o império já matou mais do que a sede
[refrão]
sou líquida, e nasci para ser livre
não há vidro que me prive, nem o céu é o limite
sou líquida, sou a seiva do teu corpo
severa em maremoto, serena numa gota
sou líquida, e nasci para ser livre
não há vidro que me prive, nem o céu é o limite
sou líquida, sou a seiva do teu corpo
severa em maremoto, serena numa gota
líquida… e nasci para ser livre
não há vidro que me prive, nem o céu é o limite
sou líquida, sou a seiva do teu corpo
severa em maremoto, serena numa gota
sou líquida, e nasci para ser livre
não há vidro que me prive, nem o céu é o limite
sou líquida, sou a seiva do teu corpo
severa em maremoto, serena numa gota
líquida…
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